quinta-feira, 24 de julho de 2008

CAPOEIRAS NA GUERRA DO PARAGUAI.

O General Dionísio Cerqueira - que integrou as tropas brasileiras que combateram no Paraguai,... "Eram todos negros e chamavam - Zuavos baianos. Os oficiais também eram negros".
Maiores detalhes desse episódio, nós, da CAPOEIRA RONDONOPOLITANA, solicitamos que faça um clic aqui.

A GUARDA NEGRA.

História do Negro Brasileiro

Clóvis Moura - São Paulo: Editora Ática S.A., 1992 Imagens publicadas em Brasil História / Antonio Mendes Jr., Luís Roncari, Ricardo Maranhão - São Paulo: Digitalmídia Editora Ltda, 1995.
Quer saber mais sobre a temática? então Clic Aqui.

DOM JOÃO E A CAPOEIRA.

HISTÓRIA, FILOSOFIA, PESQUISA
por Nestor Capoeira
Em 1808, o rei D. João VI veio para o Brasil - a maior colônia portuguesa, na época -, fugindo de Napoleão Bonaparte que tinha invadido Portugal.
Com a chegada do rei português e sua corte - umas 4.500 pessoas, na primeira leva -, no Rio de Janeiro que, na época, tinha uns 700.000 habitantes, mais de metade sendo escravos negros, começou uma repressão à várias manifestações da cultura negra (dos escravos) jamais vista. Isto provocou uma resposta que, na capoeira (que apenas "engatinhava" e era praticada apenas por pequenos grupos de escravos): a capoeira assumiu uma forma ainda mais violenta.
Maiores informações sobre a obra de Nestor Capoeira Clic aqui

sábado, 19 de julho de 2008

CURIOSIDADES DE MESTRE BIMBA.

Mestre Bimba idealizador da Capoeira Regional.

Quer saber mais sobre ele clic aqui

GRUPO DE CAPOEIRA CHIBATA.

Mestre Carivaldo: Certeza que a capoeira irá continuar.








Professor Machado

Alguns momentos do trabalho realizado pelo Grupo de Capoeira Chibata Em Rondonópolis.



Enquanto pesquisador dessa Arte/Luta/Dança, é interessante sabermos um pouco das atividades do Grupo.









Mestre Carivaldo fundador da Primeira Academia de Capoeira em Rondonópolis-MT




Mestre sentado no chão conversando com seus alunos. Humildade a toda a prova.



Mestre homenageado em Cuiaba.





Em Cuiabá um encontro promovido pela Federação Matrogrossense de Capoeira. Esses sete homens representam um legado de Zumbi.

CAPOEIRA EM RONDONÓPOLIS.

Quinta-feira, dia 17 de julho de 2008, a partir das 19:30 horas, estivemos na Academia de Capoeira Chibata, é um período de férias mas, o Professor Machado nos recebeu gentilmente e permitiu que fizessemos algumas imagens. Eis o nosso presente de férias para voces.


quarta-feira, 16 de julho de 2008

CAPOEIRA VIRA PATRIMÔNIO CULTURAL BRASILEIRO.

A luta foi grande mas valeu. Zumbi, Bimba, Pastinha muito obrigado por nos mostrarem o caminho.

Quer saber mais Clic Aqui.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

CRIANÇAS E A CAPOEIRA.

O pesquisador na Pça. Bom Jesus Na Vila Operária Rondonópolis - MT.


Visitando uma exposição sobre a reinterpretação de obras de grandes mestres da pintura no Brasil, encontramos um quadro intitulado de "Brincadeiras de Crianças", Apreciem a semelhança que ele possui com o nosso objeto de estudos.











Quadro Brincadeira de Crianças

sexta-feira, 11 de julho de 2008

22- SOBRE O PROJETO.

UMA VISÃO HISTÓRICA DA CAPOEIRA RONDONOPOLITANA


LUIZ CARLOS VARELLA DE OLIVEIRA

PROJETO DE PESQUISA CAPOEIRA RONDONOPOLITANA

JULHO/2007

SUMÁRIO


I. Introdução
II. Tema
III. Objeto
IV. Objetivos
V. Justificativa
VI. Problemáticas
VII. Hipóteses
VIII. Revisão Bibliográfica
IX. Metodologia
X. Fontes e Referências Bibliográficas


I. INTRODUÇÃO


Os seres humanos nascem livres, iguais e originais, mas quando deixam de exercer tais prerrogativas no plano social, tornam-se cópias de um sistema em transformação e, essa mutação limita o homem culturalmente. Esse desenvolvimento não terá representação e representantes vigorosos na transmissão de informações úteis aos componentes de um determinado segmento social. Por isso é preferível o homem livre e criativo que ampliará a si e a comunidade.

A Cultura, enquanto produção histórica em sociedade, aparece como um arsenal complexo no qual, estão incluídos os conhecimentos, crenças, artes, moral, costumes e quaisquer aptidões ou hábitos adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade. O ambiente e o modo de viver de um grupo de seres humanos, ocupando um território comum criou o social e o cultural na forma de idéias, instituições, linguagem, instrumentos, serviços e sentimentos que darão complementação à sobrevivência física e coletiva.

O estudo dos aspectos culturais de uma etnia e como eles foram implantados no meio social, no caso, os afro-brasileiros que trouxeram a capoeira para Rondonópolis, possivelmente revelarão o modo, também como determinada realidade social foi construída, pensada e lida por esses atores Dessa maneira, cultura é tudo aquilo produzido pelo trabalho humano, também no nível de nossa história local,depois de um processo migratório.

A cultura é o dispositivo que move o indivíduo e o grupo para longe da indiferença, da indistinção transformando-se e transformando-o podendo se atingir a diferenciação. Ela depende da história de um povo. Especificamente no caso da capoeira rondonopolitana, as contribuições de início estão vinculadas às situações pelas quais passaram e viveram seus implantadores. E depois a mesma ganhou novos contornos, novas mudanças, pois engendrou e se incorporou a processos locais.

O estudo da capoeira em Rondonópolis no período de 1980 à 2000 destacará o movimento, ainda que incipiente desta arte/luta/dança, genuinamente afro-brasileira, também como prática desportiva e de inclusão social.


II. TEMA

O presente objeto de estudos se insere na História Cultural do Estado de Mato Grosso.
Nosso estado foi ocupado inicialmente por uma plêiade de povos indígenas mas, a partir da conquista européia recebe novas levas de povos de Velho Mundo, aumentando o caleidoscópio ético e cultural de nossa região.

Por volta do século XVI, o Brasil passou a receber contingentes de africanos trazidos à força para se tornarem homens escravizados, e se constituírem em objetos de trabalho, instrumentos de acumulação para colonos portugueses ávidos de especiarias ouro e pedras preciosas. No século XVIII, tais seres humanos escravizados chegaram a Mato Grosso e por mais de 200 anos trouxeram suas contribuições.

Esses homens, antes livres em África, vieram para cá construíram a capitânia, depois províncias para os outros, juntamente com os povos indígenas que cá viviam, ficando-lhes reservadas a pobreza, miséria e discriminação. Mas também trouxeram suas idéias, sua cultura, interagiram como puderam, dando sua parcela de ajuda para a expansão cultural regional que, a partir de sua presença na região, tornou-se mais rica e complexa.

A partir do alvorecer do século XX, novas levas de migrantes negros, procedentes do Nordeste (baianos em destaque) trazem seu trabalho e cultura para o então Leste de Mato Grosso. Finalmente por volta dos anos 50 do século XX atingem o Vale do Rio Vermelho e chegam à Rondonópolis para aí gerar mais riqueza social e cultura. A capoeira é uma das preciosas ofertas culturais destes homens, provavelmente de maioria negra.

A partir de então tornou-se possível, ouvir, olhar e participar da capoeira, de forma mais amiúde, no vale do /rio Vermelho, ex-território indígena imemorial.


III. OBJETO

A presença da capoeira na cultura rondonopolitana é tributária da genialidade do negro em utilizar elementos sócio-culturais originalmente afro-brasileira ampliando a qualidade, difundindo o saber corporal caracteriza-se numa das manifestação da sabedoria dos afro-brasileiros. Esse conhecimento, segundo Nestor Capoeira , “nucleia um conjunto de atitudes configuradas enquanto estratégia, cuja finalidade é a edificação de espaços por onde uma identidade coletiva autentica seja preservada”. Mas é claro que nem a capoeira e nem a inteligência do negro se resume à preservação de espaços de identidade. Precisamos estudar para descobrir porque a capoeira veio e permaneceu e se expandiu em Rondonópolis. E em que medida o negro foi arquiteto disso, que motivações outras ele tinha...

A década de 80 do século passado promoveu um fenômeno de dispersão dos praticantes da “capoeiragem” dos grandes centros urbanos do país; (Salvador, Rio de Janeiro, São Paulo), em função da divulgação da arte / luta / dança e da sobrevivência. Mato Grosso, mais propriamente Rondonópolis recebeu novos praticantes de Capoeira nesta época. Esse provável segundo influxo será cotejado em nosso trabalho, com destaque, para compreendermos o que gerou na região.



IV. OBJETIVOS

GERAIS:Estudar de forma sinóptica e não simplista, a capoeira como contribuição dos afro-brasileiros à cultura de Rondonópolis. Queremos salientar o trabalho dos negros e também a participação dos brancos, o alcance social da atividade por eles desenvolvida, (Capoeira: arte/luta/dança). No caso dos negros, além de enfrentarem os revezes de sua própria situação econômica, ainda lutavam contra o racismo, a discriminação e o preconceito. Desejamos saber como isso foi articulado e no que resultou propriamente.


ESPECÍFICOS:

- Estudar na manifestação cultural e a importância das relações coletivas que veio a criar a Capoeira em Rondonópolis.

- Estudar se a prática da capoeira e se esta atuou ou não, como meio de inclusão social do afro-brasileiro no quadro social de Rondonópolis.

V. JUSTIFICATIVA

O trabalho para o pesquisador terá relevância, pois o mesmo é professor de História de Rede Estadual de Ensino do Estado de Mato Grosso, participante ativo dos movimentos Negro e Sindical, do Grupo Litúrgico da Paróquia São José Operário e colaborador da Rádio Comunidade em Ação 106,9 FM. E atualmente, presta serviço como Professor Formador do CEFAPRO- Roo. Por exercer essas atividades, está sempre em contato com afro-brasileiros e por ser um deles, tem interesse redobrado na confecção de conhecimento sistematizado e aprofundado sobre a Capoeira.

O trabalho poderia revelar à população local eregional, a importância de uma atividade cultural coletiva, oriunda, provavelmente, do período colonial, criada e mantida por negros principalmente, e disponibilizada a praticamente todos o que facilitaria atendimentos de reivindicações para melhoria de seus serviços básicos e ainda, subsidiar teoricamente do esforço do movimento político e cultural do município, em valorizar a Capoeira e tornar o acesso da população mais factível. Neste sentido, além de tentar mostrar as possibilidades de mais socializá-la, parte da visão de afro-brasileiros no quadro social e que os mesmos, como negro, visa-se também explicá-lo como integrante das camadas pobres, e se movem por iguais aspirações de progresso econômico e social.

Tentar explicar a natureza e a importância da capoeira como parte da construção cultural e inclusão social do afro-brasileiro em Rondonópolis de 1950 a 2000 e outra contribuição que ensejamos propiciar. Enfatizaremos nisso a migração. Isto é, cogitaremos o papel dos indivíduos descendentes de negros da Bahia e de outras paragens Esperamos ser capazes de apreciar genialidade do afro-brasileiro e prescultar talveza tendência dessas ações. Tudo isso poderá auxiliar a edificação de uma sociedade mais justa, possivelmente, com a diminuição dos excluídos, e redução dos preconceitos.



VI. PROBLEMÁTICAS

a) A discriminação, o racismo e o preconceito estão presentes no quotidiano dos afro-brasileiros que residem em Rondonópolis. Sendo a maior parte da população, ainda assim são afetados diariamente, com injúrias, violência simbólica e física, deboches, revanchismos e desrespeito pessoal e à alteridade, levando o negro a sofrimentos, inseguranças, interiorizações, complexos, receios e neuroses. Torna-se assim, alvo de perseguições, depressões, rebeldias, auto-racismo, niilismo e sofre ações racistas, se inserindo também na Marginalidade Estrutural do negro na sociedade capitalista de Rondonópolis. Na nossa observação, as críticas direcionadas aos negros poderiam ser combatidas ou pelo menos minimizadas, ou quiçá ainda suplantadas se fossem ensinadas e divulgadas a valorização e a importância que possuem na composição étnica da sociedade local e se melhorasse o entendimento e a aceitação da contribuição dispensada com a prática da Capoeira, que poderia ser uma prática desportiva dentro da disciplina de Educação Física, como ocorre em algumas escolas do Estado de São Paulo.

b) O Racismo Brasileiro, na sua maior parte é originário da Escravidão e, continuou a existir após a abolição precária, que não integrou socialmente o negro. Assim pode permanecer no racismo um forte componente cultural, matriz cultural repassada pela tradição, reatualizada e ressignificada em função da cidadania de 3ª categoria atribuída ao negro pela abolição insuficiente. Esta, expande-se inclusive na Escola Básica, (Ensino Fundamental, Básico e Superior). Entretanto, apesar da Capoeira ser parcialmente difundida e conhecida como arte principalmente negra, ainda existe a necessidade proeminente em promover um realinhamento de harmonia, respeito, integração e igualdade entre brancos e negros na cidade e na escola, tanto nas ações horizontais, (alunos), quanto nas verticais, (corpo docente, corpo técnico administrativo com alunos). Essa aproximação e entendimento poderiam acontecer com o conhecimento de causa dos envolvidos, mas não acontece. E não acontece numa localidade que, até onde sabemos, não houve período escravista para a população negra. Nossa pesquisa pode vira esclarecer e proceder a ligação entre a prática de Capoeira e uma valorização cultural, sobretudo no espaço escolar.

c) As questões que envolvem o afro-descendente, desde o período da abolição, com relação à inclusão social, contém componentes culturais construídos pelo branco que afastam o negro de suas raízes e o colocam como um ser humano sem nenhum passado. A presença dele reconhecida na História do Brasil como responsável, principalmente, pelo progresso econômico, destacará atos e atitudes dessa etnia, no plano cultural saindo do anonimato, ora sendo coadjuvante, ora protagonista de acontecimentos ocorridos no Brasil. A Capoeira surge nesse contexto, e princípio como prática cultural corporal de defesa nas fugas empreendidas dos engenhos, depois, como consolidação de arte/luta/dança promovendo o negro, ainda que precariamente, à ascensão social. E sobretudo, o melhor conhecimento da teoria e prática da Capoeira, nos auxiliar no entendimento na ênfase que a Cultura Afro-brasileira dispensa a cultura corporal e musical.


VII. HIPÓTESES

a) A inclusão social de um indivíduo, de um grupo, ou de uma etnia ocorre quando são observadas as especificidades da camada social almejada, para fazer parte dela. Incorpora-se suas características básicas e, a partir dessa simbiose provocada, intencionalmente, inicia-se o processo de ação e demonstração de elementos culturais contidos no grupo étnico. A Capoeira insere-se nesse perfil. Está presente em todo o Território Nacional e fora dele. Agrega-se novas culturas sem perder sua essência. Não se tem conhecimento democrático e de tolerância do negro, porque a academia pouco estuda o fenômeno e divulga menos ainda seus resultados.

b) Apesar de Rondonópolis ser apresentada como a maior cidade do sul do Estado de Mato Grosso, isso representa pouca relevância à promoção social dos afro-brasileiros, a ponto de não serem lembrados e reconhecidos como cooparticipantes e construtores legítimos do local onde moram. Especificamente os praticantes de capoeira, não são assim reconhecidos e até hoje esta secular, senão milenar arte/luta/dança/música/esporte é tida como folclore.

c) O Estado considerando defensor dos direitos afro-brasileiros quanto à promoção social, tem ação reduzida neste sentido de inclusão social, ao deixar a resolução dos problemas para o próprio grupo que é discriminado. E dessa forma, mestres, alunos e discípulos precisam se sacrificar muito para que a Capoeira não desapareça de Rondonópolis. Em contrapartida, anualmente, o Poder Público Municipal e Estadual encaminha recursos consideráveis para empreendimentos econômico-culturais de vulto em Rondonópolis. É o caso da Exposul e quetais...

É o Estado, portanto, que é indiferente a uma manisfestação cultural que diz respeito a mais da metade da população rondonopolitana, se desvia do seu papel de mantenedor e promotor da cultura popular para favorecer quem? Já o favorecido.



VIII. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

A primeira obra que me chamou atenção para estudar o objeto foi à escrita por Anande Areias. O que é Capoeira, escrita em 1983 que, na página 106 é relatado: quando estudamos essa “arte marcial brasileira”, com mais de 5 milhões de adeptos no Brasil e fora dele, pode ser dividida em cinco fases como segue:

a) Início da escravidão: Quando o escravizado guiado pelo instinto de sobrevivência tentava utilizar o corpo para se livrar do sofrimento e fugir.
b) Nos quilombos: A capoeira já era uma arma utilizada pelos quilombolas para sua defesa.
c) Última Década do Império: Começo da AboliçãoInício da RepúblicaProibição oficial da Capoeirad) A liberação: Ocorrida na Ditadura de Vargase) Institucionalização da Capoeira: Surgimento das federações, das ligas e da Confederação Brasileira de Capoeira entre as décadas de 1970 e 1990.

Baseado em Anande tentaremos periodizar a História da Capoeira Rondonopolitana.
O texto escrito por Sidney Chaloub, em 1990, Visões de Liberdade, onde o autor realiza um estudo dos processos que estão envolvidos escravos nos julgamentos, colocou-me intrigado em obter informações que a maior parte dessas condenações analisadas, possuíam uma característica comum: todas as agressões e transgressões ocorriam quando o escravizado era vendido ou trocado, sendo obrigado a morar em outra localidade.

A obra de Chaloub faz-nos interrogar: ainda que fossem negros com várias tendências culturais por que preferiam ficar juntos? Qual o principal objetivo nessa atitude dos escravizados e condenados? Quando esses traços de cultura diferenciada se agregavam, quais seriam as tendências, a partir dessa fusão? Queremos pesquisar essas questões na possibilidade de uma delas ser a Capoeira.

A obra do Mestre Zulu, Idiopráxis de Capoeira, escrita em 1995, após ler e refletir sobre a mesma consultei autores que pesquisaram sobre a maneira do ser humano incorporar em sua prática e vivência, os conhecimentos adquiridos, entre eles Piaget, onde fala “O adolescente pode pensar em coisas completamente abstratas, sem necessitar da relação direta com o concreto. O conhecimento é construído na experiência”. Outro, Vygostsky, concebendo o “desenvolvimento é fruto de uma grande influência das experiências dos indivíduos; mas cada um dá um significado particular à essas vivencias”. O jeito de cada um compreender o mundo é individual, aguçou-nos a curiosidade sobre os tratamentos destinados à capoeira, para que ela exerça influência em todos os sentidos de atuação humana. A citação da pagina 24, “Essas dimensões de tratamento tem gênese e corporificação no legado cultural do negro, no tempo e no contexto sócio-histórico brasileiros”, levou-nos a seguinte interrogação: Por que essa arte/luta/dança, com mais de quatro séculos de existência, está cada vez mais praticada e aumentando gradativamente seus adeptos no Brasil e fora dele?

De posse dessas informações queria saber sobre o meu objeto de pesquisa e, deparamos com a obra de Nestor Capoeira: Os Fundamentos da Malícia, escrito em 1998. Esse texto colocou-nos em contato com os grandes mestres, Bimba e Pastinha, bem como o trabalho que ambos empreenderam para divulgar e praticar essa arte/luta/dança. Ao refletirmos sobre esse trabalho de Nestor percebemos que a Capoeira foi bem mais que um passa tempo e sim, uma atividade que demonstra a genialidade do negro na forma de expressar o seu saber corporal. Percebi essa sabedoria quando o corpo, como instrumento de transmissão de cultura, ou seja, os hábitos socialmente adquiridos denominados ARQUIVOS, são convertidos em ARMA, da defesa física organizada individual e comunitária.

Outra obra que contribuiu para o nosso aprofundamento e estudo do objeto de pesquisa foi Capoeira Escrava e Outras Tradições Rebeldes no Rio de Janeiro 1808 – 1850, de Carlos Eugênio Líbano Soares. Esse texto foi escrito em 2004, onde o autor faz uma análise dos arquivos da Marinha no Rio de Janeiro e constata que a prisão dessa Força Armada do Brasil, no Estado Fluminense, ao invés de ser evitada pelos negros era a que mais os atraia. Pois, com criatividade eles viam nela possibilidade de fuga. Tanto a outras localidades do Brasil ou para outros países, através dos navios que, constantemente atracavam no local.

Foram essas as principais obras entre outras estudadas, que nos conduziram a pesquisar sobre esse objeto. Pois tal qual a História do Brasil, a Capoeira Rondonopolitana também teve fases distintas. Portanto, acreditamos na superação dos afros-descendentes e, é estudando o período de 1950 a 2000, em suas especificidades, com relação a essa arte/luta/ dança; poderemos compreender com mais perspicácia a importância dela na prática de inclusão social de negros e brancos.



IX. METODOLOGIA

As obras encontradas sobre o objeto a ser pesquisado na historiografia de Mato Grosso, especificamente em Rondonópolis são incipientes. Acreditamos existir em jornais da cidade reportagens e artigos espalhados sobre o tema que venham nos auxiliar na pesquisa.

1) Efetuaremos entrevistas, com os praticantes de capoeira, distribuiremos questionários e formulários afim de que possamos obter mais informações acerca de como o movimento surgiu, foi implantado e as razões de sua continuidade.

2) A Historia Oral contribuirá para entendemos o quadro social representado pela Capoeira, entre os anos 1950 a 2000. Pois, pelo número de praticantes em Rondonópolis, compreenderemos as convergências e as divergências, dessa atividade desportiva.

3) Nos debruçaremos nos depoimentos dos mestres, professores e alunos de Capoeira em Rondonópolis, principalmente sobre os mais antigos. Talvez venhamos a conhecer se em Rondonópolis se reproduz a dualidade que a Capoeira detém no nível Nacional: Capoeira dos Pobres e a Capoeira da classe média.

4) Aprofundaremos nosso levantamento bibliográfico e leituras teóricas sobre a capoeira, em nosso Estado e no Brasil para compreendermos com maior acuidade tais tipos de questões e para nos prepararmos para a eventualidade de nos defrontarmos com as mesmas na pesquisa.



XI. FONTES E REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS



AMADO, Janaina; Ferreira, Marieta de Morais. Usos e Abusos da História Oral. Rio de Janeiro: FGV, 2002.


AREIAS, Anande da. O que é capoeira. São Paulo: Tribo, 1983.


ALGRANTI, Leila Mosan. O Feitor Ausente. Estudo sobre a escravidão urbana no Rio de Janeiro 1808-1822. Petrópolis: Vozes, 1988.


CARNEIRO, Edison. Quilombo dos Palmares. São Paulo: Brasiliense, 1947.


Camdomblés da Bahia. 5 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1977.


CAPOEIRA, Nestor. Capoeira: Os fundamentos da malícia. 4 ed, Rio de Janeiro: Record, 1993.



CHALOUB, Sidney. Visões de Liberdade: uma história das ultimas décadas da escravidão na corte. São Paulo: Companhia de Letras, 1990.


CHARTIER, Roger. A História Cultural – Entre Práticas e Representações. São Paulo: Bertrand Brasil, 1990.


DA MATTA, Roberto. O que é Brasil. Rio de Janeiro: Rocco, 2003.



FRANÇOIS, Etienne. A Fecundidade da História Oral IN_______AMADO, Janaina, FREITAS, Décio. O Escravismo Brasileiro. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1982.FREIRE –


MAIA, Newton. Brasil Laboratório Racial. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1973.


FREITAS, Décio. Palmares a guerra dos escravos. 5 ed. São Paulo: Graal, 1990.



FREYRE, Gilberto. Casa Grande e Senzala: Formação da Família Brasileira sob o regime da Economia Patriarcal. 34 ed. Rio de Janeiro: Record, 1998.



GORENDER, Jacob. A Escravidão Reabilitada. São Paulo: Bom Livro, 1991.



KARASCH, Mary C. A Vida dos Escravos no Rio de Janeiro (1808-1850). Rio de Janeiro: Cia de Letras 2000.


KLEIN, Herberto. Escravidão Africana: América Latina e Caribe. Trad. José Eduardo de Mendonça. São Paulo: Brasiliense, 1987.



LE GOFF, Jacques. História e Memória: Campinas SP: Unicamp, 2003.



MAESTRI, Mário. O Escravismo no Brasil. São Paulo: Atual, 1994.



MEIHY, José Carlos Sebe Bom. Manual da História Oral. São Paulo: Layola, 2002.



MOURA, Clóvis, Sociologia do Negro Brasileiro. São Paulo: Ática, 1988.


NASCIMENTO, Flávio Antônio da Silva. Aceleração Temporal na Fronteira: Estudo do Caso de Rondonópolis. Tese de Doutorado. USP, 1997.NASCIMENTO, Flávio Antônio da Silva. Racismo Brasileiro: Uma Pequena Introdução Crítica. Rondonópolis: ICHS / UFMT, 2001.



NASCIMENTO, Flávio Antônio da Silva. O Negro: Questões Culturais e Raciais. Rondonópolis: ICHS / UFMT, 2001.



NASCIMENTO, Flávio Antônio da Silva. Migrações e Racismos IN________GOETTERT, Jones Davi – FERREIRA, Ivanildo José (orgs.) Migrantes em Rondonópolis – Rondonópolis-MT: Centro de Direitos Humanos Simão, Bororo, 2002.



MOURA, Jair. Mestre Bimba: A Crônica da Capoeiragem. Salvador: Fundação Mestre Bimba, 1991.QUEIRÓZ, Suely Robles Reis de. Escravidão Negra em Debate. IN______FREITAS, Marcos Cezar. Historiografia Brasileira em Perspectiva. São Paulo: Contexto, 2001.



REGO, Waldeloir. Capoeira Angola: Ensaio Sócio – etnográfico, São Paulo: Itapoan, 1968.



REIS, Letícia Vida de Souza. O mundo de pernas pro ar, a capoeira no Brasil. São Paulo: Publisher, Brasil, 1997.




RODRIGUES, Nina. Os Africanos no Brasil. São Paulo: Ed. Universidade de Brasília, 1988.



SANTOS, Aristeu Oliveira dos. Capoeira: arte-luta brasileira. Curitiba: Impressa Oficial do Estado, 1993



SANTOS, Joel Rufino dos. A Questão do Negro na Sala de Aula. São Paulo: Ática, 1990.



SILVA, Francisco Pereira da, Itinerários da capoeira. Guarulhos: Monsanto, 1979.




SOARES, Carlos Eugênio. A Negregada Instituição: os capoeiras na Corte Imperial 1850-1890. Rio de Janeiro? Access, 1999.



SOARES, Carlos Eugênio Líbano. A Capoeira Escrava, e outras tradições rebeldes no Rio de Janeiro – 1808-1850, Campinas SP: UNICAMP, 2004.


TESORO, Luci Leia Loopes Martins. Rondonópolis MT: Um Entroncamento de Mão Única. Tese de Doutorado (1902-1980). USP. São Paulo. 1993.

21- SOBRE O PESQUISADOR.


Nós sabemos que toda a temática a ser estudada na atualidade sempre apresenta uma grande número de especificidades. Com a capoeira o processo é o mesmo. Nosso interesse em estudá-la é por que sou negro. (segundo o IBGE o negro na atualidade é o preto e o pardo). Partindo dessa definição, agucei minha observação e percebi que meus alunos (sou professor da rede do Estado de Mato Grosso), na sua grande maioria são afro-descendentes. Logo, não havia um estudo na minha localidade que explicasse detalhadamente a luta do negros, enquanto etnia, que apontassem eles como construtores do Brasil em todos os sentidos. No lançamos a pesquisa e conseguimos vislumbrar muitas realizações dos negros no meu país. Uma delas, e a mais festiva, foi a capoeira.


A Capoeira enquanto Arte/Luta/Dança, oferece aos seus praticantes, pesquisadores e esportistas várias possibilidades de ser um cidadão no sentido social da palavra. Desperta-lhe limites, medos, respeito, enfim, todas as emoções que um ser humano pode ter. Além disso, seu papel na educação dos nossos jovens é sumamente importante.
Ela apresenta uma codificação que nós descobrimos enquanto pesquisamos: é o OCI. O que significa esse OCI?
  • ORGANIZAÇÃO,
  • COORDENAÇÃO,
  • INTEGRAÇÃO.

Como sabemos, para que aconteça uma "Roda de Capoeira" é necessário que exista uma pessoa ou pessoas que Organizem o espaço onde ela acontecerá previamente.

Lá no local também precisamos tem alguém que Coordene esse encontro de capoeirista e simpatizantes.
No momento em que a roda está acontecendo, a Integração do instrumentos de percussão, dos cantos e ladainhas, palmas e a própria platéia, precisam estar em sintonia, caso contrário, a atividade não acontece, isso sem falar dos elementos invisíveis que estão presentes nessas trocas de energia.
Adotamos esses ensinamentos advindo da Capoeira e introduzimos numa sala de aulas. Nela, o professor não é um capoeirista mas, se ele não se organizar (saber o local, sala, turma que irá trabalhar) terá dificuldades de locomoção dentro da instituição educacional.
Tendo realizado essa primeira atividade, estando dentro da sala de aulas, precisa exercer sua coordenação sobre os trabalhos (de que maneira serão executados as atividades: em círculo, em grupos, etc...) Após essa duas tarefas temos a integração do professor com os educandos na sala de aula (aula preparada, exercícios, passeios ou seja, seu plano de aulas), não tendo... podemos imaginar o que acorre.

Percebemos que as aulas quando criadas e aplicadas seguindo esses passos ficaram, para os alunos e o professor, mais interessantes e participativas. Pois muitos assuntos de outras temáticas poderiam sder trabalhos através dessa metodologia.
Luiz Carlos Varella de Oliveira
fone 066 9979 1923.

20- SOBRE A CAPOEIRA EM RONDONÓPOLIS.


O sucesso conseguido pelo Mestre Carivaldo no início da década de 90 do século XX, em função do seu esforço e dedicação, possibilitou a outros capoeiristas, ex-alunos ou não, ter renda ministrando aulas de capoeira. Dessa maneira e antevendo futuros ganhos com a atividade, vários grupos começaram a ser criados ou foram transferidos pra a cidade. Esse desenvolvimento somente foi possível porque o baiano que fundou a primeira escola de capoeira acreditou no potencial da cidade e acima de tudo, na cultura que ele representava.


A capoeira em Rondonópolis está em franco desenvolvimento. Existem vários grupos, cada um com suas especificidades. Entre eles destacamos:

• Grupo Chibata – Mestre Carivaldo,
• Grupo Guerreiros de Ouro – Professor Adão,
• Grupo Filhos do Quilombo – Professor Edivaldo.
• Grupo Zumba – Professor Wandão,
• Grupo Arqueando – Professor Joricley
• Grupo Quizumba – Professor Lindomar, (Capoeira Angola).



A Lei 10.639/03, em função de tratar-se da inclusão nos currículos escolares, tanto em instituições públicas como particulares, alterada pela Lei 11.645/08, onde é obrigatória o Ensino da História da África e dos Africanos e Indígenas, deu possibilidades que uma parcela da cultura africana, especialmente a capoeira, arte/luta/dança do Brasil, ser ministrada nas escolas. Para tanto, um grande número delas possuem em sua programação. Ainda que fora da grade, um horário específico para a prática dessa atividade.

O Grupo de Capoeira Chibata, fundado pelo Mestre Carivaldo na década de 80 do século XX, em Rondonópolis é o precursor da disseminação da capoeira na cidade e circunvizinhança. A comunidade rondonopolitana, principalmente as crianças, já possuem um contato mais efetivo com essa especificidade da cultura afro-descendente. Ela, a Capoeira, através dos programas desenvolvidos por componentes do Grupo Chibata ou ex-aluno prestaram e prestam relevantes serviços à sociedade local.

Nesse espaço temporal de 24 anos, muitas pessoas já praticaram esse esporte. É claro que nem todos são professores nessa atividade, ma\s são pessoas que, apesar de sua origem humilde, deram sua contribuição social, sendo chefes de família exemplares, pessoas equilibradas e responsáveis. Essas particularidades forma herdadas ou sugeridas pelos ensinamentos da capoeira.

A prática da capoeira envolve vários elementos para sua efetividade. Os berimbaus, juntamente com os caxixis; o pandeiro; o atabaque e especialmente as palmas dos sujeitos que fazem parte da roda. As letras das melodias sempre trazem em seus versos, uma história ocorrida, uma ação para ser realizada, uma comunicação, um convite, uma lembrança.

19- SOBRE CARIVALDO EM RONDONÓPOLIS.


A sua chegada em Rondonópolis ocorreu em 27 de setembro de 1984; provávelmente sua entrevista para iniciar o trabalho foi um dia depois dessa data. Após identificar-se ao proprietário quem era ele, quais suas especialidades e esperar um tempo dilatado, pois seus documentos precisavam ter comprovação de sua autenticidade, procedimento realizado por telefone à academia que o capacitou em São Paulo, recebe sinal positivo para iniciar suas atividades.

Da fala do capoeirista destacamos: “No começo foi difícil, pois a capoeira não era difundida por aqui; comecei com seis alunos, e só depois de algum tempo é que o pessoal foi apreciar esse tipo de luta; uns dois anos depois (1986), já tinha mais de 200 alunos. Hoje a Capoeira possui mais alunos do que as demais academias de lutas marciais juntas...”.

Conforme as declarações do mestre nesse desabafo, ele enfrentava duas barreiras. A primeira delas, ser o esporte por ele praticado pouco conhecido naquela época em Rondonópolis; a segunda e essa, a grande maioria da população brasileira, de alguma maneira já foi vítima. Carivaldo é afro-descendente, também sofreu discriminação e preconceito. Apesar de ter essas adversidades, continuou com seu objetivo: divulgar a sua arte. Para isso, realizava apresentações individuais em praças públicas, feiras livres, clubes, para despertar o interesse dos espectadores para a luta.

O compromisso assumido com a academia continuava sendo cumprido e, nos finais de semana, o mestre fazia as demonstrações de destreza corporal e agilidade. Esses exercícios chamavam atenção da garotada e entre eles um em especial, Edir Machado.
O menino Edir com aproximadamente treze anos entra em contato com o capoeirista e começa ter suas aulas. Citamo-lo como exemplo, mas o Mestre Carivaldo, teve várias dezenas de alunos com essa idade como “discípulos”. A grande maioria deles oriundos de famílias humildes. Mas o mestre, jamais deixou de dar atenção e ter os devidos cuidados, principalmente na alimentação. Ainda que ele enfrentasse dificuldades financeiras no início, nenhum de seus “capoeiristas” nos final dos encontros voltavam às suas casas sem ter recebido do professor, além dos ensinamentos do mundo da capoeira, comida.

A dedicação e persistência do Mestre naquilo em que ele acreditava, após três anos de trabalho (1984 a 1987), começam a surgir os primeiros frutos. Em 16 de junho de 1987 funda sua escola de capoeira, a Associação de Capoeira Regional Chibata, a primeira do gênero em Rondonópolis. Carivaldo com 33 anos administra um empreendimento exclusivo.

Nesse período, como é típico em seu perfil, enquanto ser humano, as tarefas que precisavam ser realizadas na academia eram divididas entre os seus alunos mais graduados. Essa prática continua sendo aplicada, mesmo após de mais de duas décadas de fundação desse espaço destinado à prática da capoeira.

A Capoeira, arte/luta/dança do Brasil, somente tem desenvolvimento quando seus praticantes entram em contato com outros grupos. Em Rondonópolis não foi diferente. Ma como conseguir recursos financeiros para esses deslocamentos? Mestre Carivaldo faz valer sua genialidade. A feira da Vila Aurora foi o local aonde esses “financiamentos” realizaram-se.

O mestre e seus alunos faziam ali uma roda de Capoeira. No término dessa atividade, era passado às pessoas que assistiam essa demonstração, “uma caixa de papelão” onde a “platéia” oferecia quantias em numerário. A coleta, após ser contabilizada custeava a viagem para outras localidades. Era dessa maneira que o Grupo de Capoeira Chibata fazia-se presente em eventos fora da cidade de origem.

Em entrevista ao pesquisador em fevereiro de 2005, o Professor Machado, nos brindou com a seguinte declaração. “Era muito bom fazer isso. Eu pude observar que a Capoeira me dava comida, bebida e viagem para eu aprender mais sobre ela...”.

18- SOBRE A CAPOEIRA E CARIVALDO.


A Capoeira, arte/luta/dança brasileira, combatida e combatente, segue sua trajetória na História sempre agregando elementos culturais dos locais onde chega, porém, não esquecendo sua estrutura principal. Agindo dessa maneira, torna-se mais forte, mais vigorosa e com isso, inclui mais pessoas em sua prática transformando-as em cidadãs.

A criação da Capoeira Regional por Mestre Bimba na Bahia da década de 30 do século XX, o sucesso alcançado pelo Grupo Senzala, no Rio de Janeiro entre os anos 60 e 70 desse mesmo século, adicionando-se ainda a criação das federações de capoeira e as realizações de campeonatos, dava a impressão que a Capoeira Angola assistia seus últimos dias. Alguns mestres angoleiros continuavam em atividades mas, completamente obscurecidos pelo estilo regional-senzala.

Essa situação enfrentada pela Capoeira Tradicional, a partir de 1895 começa a tomar novos rumos. Os velhos mestres da Capoeira Angola são convidados por vários grupos para darem aulas, palestrarem, enfim, estavam tendo a oportunidade de serem visíveis novamente e, essa reviravolta somente foi entendida mais tarde.

Os estudiosos da temática perguntaram-se como foi possível isso ocorrer? Quem nos respondeu essa indagação foi o próprio Nestor Capoeira na sua Obra: (Capoeira – Pequeno Manual do Jogador, Rio de Janeiro. Record, 2006, pág. 65/66).

Nessa obra ele relata que a Capoeira Regional-Senzala não se mostrava tão eficaz na Europa e nos Estados Unidos. Isto é, o mercado estrangeiro estava mais exigente. Em contrapartida, a Capoeira Tradicional com ênfase no ritual, filosofia, atraia diversas faixas etárias; ambos os sexos, pessoas ligadas a dança, música, teatro, além das ligadas às arte marciais. Estavam então entendido o motivo pelo qual os praticantes do estilo quase esquecido forma convidados a entrarem novamente na roda.

O mundo da capoeiragem precisava mais espaço, tanto dentro como fora do Brasil. Homens destemidos, estudiosos, autodidatas e acima de tudo corajosos, deixam seus locais de origem e partem para novos desafios. A década de 80 do século XX se presta para isso. Capoeiristas tendo a memória como arquivo e o o corpo como instrumento para materializar essas informações acumuladas por mais de duas décadas, são disseminadores dessa arte/luta/dança nos mais variados e distantes localidades.

A movimentação desse período, especificamente da Capoeira, nos faz ir até o Estado da Bahia, na cidade de Souto Maior, onde em 20 de março de 1954, nasceu Carivaldo Lopes dos Santos. Filho de Antônio Lopes dos Santos e de dona Maria Etelvina de Jesus. Ele é afro-descendente, e como todos nós precisou com pouca idade iniciar-se no trabalho para sua manutenção e dos seus.

O menino Carivaldo em 1966 inicia a prática da Capoeira com o senhor Antônio Canceição Moraes, conhecido na Bahia e fora dela como Mestre Caiçara. Após 8 anos de dedicação, muitas aulas de capoeira e de vida, ensinamentos de seus superiores, principalmente do mestre professor, em 1974, com várias lições é solicitado ao jovem capoeirista que vá “dar volta a mundo”. Essa expressão no mundo na Capoeira significa conhecer outros lugares e aprimorar, através da observação e prática, os fundamentos da Capoeira. Com 20 anos Carivaldo estava em São Paulo.
O Estado recebeu-lhe como havia feito a tantos outros baianos. Porém, esse jovem tinha mais sonhos e foi aconselhado a procurar outro baiano, o Mestre Ferreira, já algum tempo na capital paulista. Os ensinamentos obtidos na Bahia com Mestre Caiçara foram tão significativos que em 31 de março de 1979, formou-se como mestre de Capoeira. Após ter recebido essa titulação, comprovação de seu esforço e dedicação, abre sua primeira academia sob a denominação de “Academia de Capoeira Nosso Senhor do Bom Fim”.

O seu trabalho, agora como proprietário de academia no Estado de São Paulo, manteve-se em atividade aproximadamente 5 anos. Mas seu ideal não era “viver da Capoeira e sim, viver para a Capoeira”, divulgando sempre a cultura dos afro-descendentes. A sua inquietação e seu desejo de mudanças decidiu vir a Mato Grosso, com o objetivo de fundar uma federação de capoeira. Ele não sabia ao certo qual seria a cidade, mas ela deveria estar ao norte do estado matogrossense.

O capoeirista adquire a passagem e segue viagem. Utilizava como estratégia compra-la sempre para cidades com maior destaquen no cenário Nacional, nesse caso específico, até Cuiabá.

O deslocamento seguia tranqüilo e como acontece com todo o viajante, é normal conversar com outras pessoas. Com Mestre Carivaldo não foi diferente. Antes de chegar em Rondonópolis, em uma parada para refeição ele trava um diálogo com um senhor que morava nesta cidade. Quando falou-lhe o que fazia e o porquê estava viajando, esse homem fez questão de fazer uma cortesia, isto é, pagando-lhe o que foi consumido e ainda indicando um local para pernoitar, além disso disse qual seria a academia e com quem falar para ter disponibilidade de trabalho.

O Hotel Sumaré de Rondonópolis foi quem primeiro abrigou o Mestre de Capoeira. Nesse período, esse estabelecimento comercial era um dos mais próximos do terminal rodoviário da cidade.

Após merecido repouso, no dia seguinte foi até a Academia Líder de Artes dialogar com seu proprietário, o professor de Jiu-jitsu Paulo César Venâncio.

quinta-feira, 10 de julho de 2008

17- SOBRE OS GRUPOS DE CAPOEIRA.


O ser humano sempre que enfrenta algum problema, principalmente de subsistência, emigra. Isto é, procura outras localidades para exercer uma atividade. Nessa ação, levava consigo, elementos culturais de onde vem e incorpora aqueles que encontram aonde chega.

A situação para muitos na Bahia, economicamente falando, principalmente os afro-descendentes, não era das melhores logo, mudanças emergenciais precisavam ser realizadas. Dessa maneira, baianos junto com nordestinos em geral, “deixa seu berço natal e bate em retirada para as terras do Sul”. A princípio esses deslocamentos para outras localidades era a procura de melhores condições, isto é, trabalho.

Quando esse contingente de pessoas chega a São Paulo e com eles os capoeiristas, não se ocupam da capoeira. Vieram a fim de ganhar a sobrevivência com atividades que rendesse algum numerário. Foi dentro desse clima que aqueles praticantes ou possuíam conhecimento da capoeiragem, muitas vezes em praças, feiras livres, nos terreiros das casas dos bairros onde residiam, com objetivos bem simples: trocar notícias dos familiares e saber das novidades da sua terra e de sua gente.

Com o transcorrer do tempo esses encontros ficaram mais efetivos. E quando eles aconteciam sempre alguém levava um berimbau, um pandeiro, um atabaque, um vestia uma roupa folgada. Nessa atmosfera, as conversas rolavam soltas, fatos comuns eram revividos e os assuntos que envolvesse a capoeira era o ponto culminante do encontro. A intensidade da reunião era tanta que em um determinado momento, alguém não agüentava tantas recordações e tirava uma nota de sua excelência, o berimbau; o seu pandeiro coaxava respondendo e em seguida um canto ecoava:

Bahia, minha Bahia,
Capital é Salvador,
Quem não conhece capoeira
Não Pode dar valor.

Todos podem aprender,
General até doutor,
Mas para isso é necessário,
Procurar um professor. (AA)

A partir desse momento dois homens arregaçavam as pernas das calças, abaixavam-se ao pé do berimbau, se benziam, davam-se as mãos, o solista gritava: “Dá volta ao mundo”. Eles pulavam para dentro da roda. Era mais uma vez o reencontro com uma maneira peculiar de ser, existir e se expressar. Momentaneamente não existiam conflitos entre estilos, filosofia e fundamentos da capoeira.

Segundo Anande das Areias, “acima das diferenças, estava à necessidade expressar-se espontaneamente, revivendo uma sensação de prazer e reencontro consigo mesmo. As diferenças eram uma complementação, a capoeira tornava-se uma só e tudo era festa e brincadeira”. E assim, provavelmente tenha começado o movimento capoeirístico em São Paulo. Encontros entre os capoeiristas. Valdemar Angoleiro, Mestre Ananias, Zé Freitas, entre muitos outros, foram alguns dos primeiros a disseminar a capoeira em terras paulistas. Essa era a época que a pessoas, fora do movimento da capoeira, quando viam um berimbau perguntavam: o que é isso?

A capoeira continua seu caminho. Mais tarde registra-se em São Paulo a presenças de outros mestres. Entre eles: Paulo Gomes, Suassuna, Brasília, Joel, Gilvam e a estes se incorporaram os recém formados capoeiristas paulistas, na atualidade, Mestres Paulão, Pinatti, Melo, Japonês Seiko.

O mercado consumidor de capoeira em São Paulo na época estava em franca expansão. Ela já freqüentava os mais variados ambientes. Os mestres estavam deslumbrados, vivenciavam a possibilidade de sobreviver da sua arte, e a de conquistar o seu espaço como capoeiristas e indivíduos dentro da sociedade.

Nessa ebulição da capoeira e a efervescência de novas políticas públicas para a nação brasileira, os “trabalhadores do Brasil”, precisavam ter organização e assim, a sociedade colaboraria com o poder executivo central, na construção de um ´país soberano. A capoeira precisava de uma federação, para resolver alguns entraves, e para que ela fosse transformada em Arte Marcial Brasileira criou-se a Federação Paulista de Capoeira.

Os mestres líderes da capoeiragem paulista, Suassuna e Pinatti, estimulados pelo mestre Onça, recém chegado da Bahia e representante da ideologia da ideologia ditatorial, tentam “unir”, dirigir e integrar o meio capoeirístico ao regime. A federação agindo dessa maneira provocou dissabores a vários capoeiristas.

O Grupo “Capitães das Areias” fundado e liderado por Almir das Areias, atualmente, Anande das Areias, reunindo os mestres Demir, Valdir, Baiano, Carioca, Pessoa, não aceitaram esse novo caminho imposta à capoeiragem. A reação desses homens na época foi considerada uma traição. Mas agiram assim porque, para eles a capoeira era muito mais que uma luta e um esporte, era acima de tudo uma consciência de vida e um reencontro com a nossa identidade.

Alguns jovens da classe média carioca, durante as férias de fim de ano, no começo dos anos 60 tiveram aulas com o mestre Bimba. Retornaram pra o Rio de Janeiro, prosseguem o aprendizado de forma quase autodidata. A aplicação aos treinamentos desses jovens foi recompensada, pois em 1966/67/68, eles conquistaram o troféu “Berimbau de Ouro” e o grupo que representavam “Grupo Senzala”, chegou ao auge com as rodas realizadas aos sábados no Bairro do Cosme Velho.
O Grupo Senzala e seus intrépidos componentes já no final da década de 1960, obteve grande sucesso em termos de número de alunos, de dinheiro e status. Vários fatores contribuíram, entre eles:

• A dedicação de seus instrutores;
• As novidades introduzidas;
• Serem da classe média da Zona Sul do Rio (Copacabana).
• Aceitação maior da sociedade (não eram negros).

Segundo Nestor Capoeira, “... se tornou um dos grupos mais famosos do Brasil, praticando e ensinando um estilo que poderíamos chamar Regional-Senzala, e influenciou capoeiristas de todo o Brasil, até mesmo os jovens professores de Salvador.

domingo, 6 de julho de 2008

CONCEPÇÕES DE CAPOEIRA.

VÁRIAS CONCEPÇÕES DE CAPOEIRA.


Acredita-se que a capoeira pode e deve ser ensinada globalmente, deixando que o educando busque a sua identificação em quaisquer dessas enumerações que veremos a seguir. Caberá ao docente um papel relevante orientando e estimulando para que o discente possa aproveitar ao máximo toda a sua potencialidade.


Ribeiro (1992), concebe capoeira das seguintes maneiras:


Capoeira Luta - Representa a sua origem e sobrevivência através dos tempos, na sua forma mais natural, como instrumento de defesa pessoal, genuinamente brasileiro. Deverá ser ministrada com o objetivo de combate e defesa.
Capoeira Dança e Arte - A Arte se faz presente através da música, ritmo, canto, instrumento, expressão corporal e criatividade de movimentos. É também um riquíssimo tema para as artes plásticas, literárias e cênicas. Na Dança, as aulas deverão ser dirigidas no sentido de aproveitar os movimentos da capoeira, desenvolvendo flexibilidade, agilidade, destreza, equilíbrio e coordenação motora, indo em busca da coreografia a da satisfação pessoal.
Capoeira Folclore - É uma expressão popular que faz parte da cultura brasileira, e que deve ser preservada, promovendo a participação dos alunos, tanto na parte prática, como na teórica.
Capoeira Esporte - Como modalidade desportiva, institucionalizada em 1972, pelo conselho nacional de desportos, ela mesma deverá ter um enfoque especial para competição, estabelecendo-se treinamentos físicos, técnicos e táticos.
Capoeira Educação - Apresenta-se como um elemento importantíssimo para a formação integral do aluno, desenvolvendo o físico, o caráter, a personalidade e influenciando nas mudanças de comportamento. Proporciona ainda um auto conhecimento e uma análise crítica das suas potencialidades e limites.
Capoeira Lazer - Funciona como prática não formal, através das "rodas" espontâneas, realizadas nas praças, colégios, universidades, festas de largo e etc, onde há uma troca cultural entre os participantes.
Capoeira Filosofia - Entre muitos fundamentos, trás uma filosofia de vida que prega o respeito ao próximo e aos mais velhos, estes que por sua vez possuem um grau maior de sabedoria. Muitos são os adéptos que se engajam de corpo e alma criando dessa forma uma filosofia de vida, tendo a capoeira como símbolo e até mesmo usando-a para a sua sobrevivência.
CapoeiraTerapia - O esporte exerce um papel fundamental no desenvolvimento somático e funcional de todo indivíduo. Para o portador de deficiência, respeitando-se as suas limitações e capacidades, o esporte tem importância inquestionável. A capoeira vem tendo destaque muito grande, não só como esporte, mas, no caso dos portadores de deficiência, ela atua, verdadeiramente, como terapia.


Considerando sempre a etapa mental, cronológica e motora do indivíduo, propicia um desenvolvimento orgânico mais satisfatório, melhora o tônus muscular, permite maior agilidade, flexibilidade e ampliação dos movimentos. Auxilia o ajuste postural, bem como o esquema corporal, a coordenação dinâmica e, ainda, desenvolve a agilidade e força. Vale ressaltar que a capoeira proporciona a liberação de sentimentos como a agressividade e o medo, levando o ser humano a adquirir uma condição física mais satisfatória e um comportamento mais socializado.