19- SOBRE CARIVALDO EM RONDONÓPOLIS.
A sua chegada em Rondonópolis ocorreu em 27 de setembro de 1984; provávelmente sua entrevista para iniciar o trabalho foi um dia depois dessa data. Após identificar-se ao proprietário quem era ele, quais suas especialidades e esperar um tempo dilatado, pois seus documentos precisavam ter comprovação de sua autenticidade, procedimento realizado por telefone à academia que o capacitou em São Paulo, recebe sinal positivo para iniciar suas atividades.
Da fala do capoeirista destacamos: “No começo foi difícil, pois a capoeira não era difundida por aqui; comecei com seis alunos, e só depois de algum tempo é que o pessoal foi apreciar esse tipo de luta; uns dois anos depois (1986), já tinha mais de 200 alunos. Hoje a Capoeira possui mais alunos do que as demais academias de lutas marciais juntas...”.
Conforme as declarações do mestre nesse desabafo, ele enfrentava duas barreiras. A primeira delas, ser o esporte por ele praticado pouco conhecido naquela época em Rondonópolis; a segunda e essa, a grande maioria da população brasileira, de alguma maneira já foi vítima. Carivaldo é afro-descendente, também sofreu discriminação e preconceito. Apesar de ter essas adversidades, continuou com seu objetivo: divulgar a sua arte. Para isso, realizava apresentações individuais em praças públicas, feiras livres, clubes, para despertar o interesse dos espectadores para a luta.
O compromisso assumido com a academia continuava sendo cumprido e, nos finais de semana, o mestre fazia as demonstrações de destreza corporal e agilidade. Esses exercícios chamavam atenção da garotada e entre eles um em especial, Edir Machado.
O menino Edir com aproximadamente treze anos entra em contato com o capoeirista e começa ter suas aulas. Citamo-lo como exemplo, mas o Mestre Carivaldo, teve várias dezenas de alunos com essa idade como “discípulos”. A grande maioria deles oriundos de famílias humildes. Mas o mestre, jamais deixou de dar atenção e ter os devidos cuidados, principalmente na alimentação. Ainda que ele enfrentasse dificuldades financeiras no início, nenhum de seus “capoeiristas” nos final dos encontros voltavam às suas casas sem ter recebido do professor, além dos ensinamentos do mundo da capoeira, comida.
A dedicação e persistência do Mestre naquilo em que ele acreditava, após três anos de trabalho (1984 a 1987), começam a surgir os primeiros frutos. Em 16 de junho de 1987 funda sua escola de capoeira, a Associação de Capoeira Regional Chibata, a primeira do gênero em Rondonópolis. Carivaldo com 33 anos administra um empreendimento exclusivo.
Nesse período, como é típico em seu perfil, enquanto ser humano, as tarefas que precisavam ser realizadas na academia eram divididas entre os seus alunos mais graduados. Essa prática continua sendo aplicada, mesmo após de mais de duas décadas de fundação desse espaço destinado à prática da capoeira.
A Capoeira, arte/luta/dança do Brasil, somente tem desenvolvimento quando seus praticantes entram em contato com outros grupos. Em Rondonópolis não foi diferente. Ma como conseguir recursos financeiros para esses deslocamentos? Mestre Carivaldo faz valer sua genialidade. A feira da Vila Aurora foi o local aonde esses “financiamentos” realizaram-se.
O mestre e seus alunos faziam ali uma roda de Capoeira. No término dessa atividade, era passado às pessoas que assistiam essa demonstração, “uma caixa de papelão” onde a “platéia” oferecia quantias em numerário. A coleta, após ser contabilizada custeava a viagem para outras localidades. Era dessa maneira que o Grupo de Capoeira Chibata fazia-se presente em eventos fora da cidade de origem.
Em entrevista ao pesquisador em fevereiro de 2005, o Professor Machado, nos brindou com a seguinte declaração. “Era muito bom fazer isso. Eu pude observar que a Capoeira me dava comida, bebida e viagem para eu aprender mais sobre ela...”.
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