quinta-feira, 10 de julho de 2008

17- SOBRE OS GRUPOS DE CAPOEIRA.


O ser humano sempre que enfrenta algum problema, principalmente de subsistência, emigra. Isto é, procura outras localidades para exercer uma atividade. Nessa ação, levava consigo, elementos culturais de onde vem e incorpora aqueles que encontram aonde chega.

A situação para muitos na Bahia, economicamente falando, principalmente os afro-descendentes, não era das melhores logo, mudanças emergenciais precisavam ser realizadas. Dessa maneira, baianos junto com nordestinos em geral, “deixa seu berço natal e bate em retirada para as terras do Sul”. A princípio esses deslocamentos para outras localidades era a procura de melhores condições, isto é, trabalho.

Quando esse contingente de pessoas chega a São Paulo e com eles os capoeiristas, não se ocupam da capoeira. Vieram a fim de ganhar a sobrevivência com atividades que rendesse algum numerário. Foi dentro desse clima que aqueles praticantes ou possuíam conhecimento da capoeiragem, muitas vezes em praças, feiras livres, nos terreiros das casas dos bairros onde residiam, com objetivos bem simples: trocar notícias dos familiares e saber das novidades da sua terra e de sua gente.

Com o transcorrer do tempo esses encontros ficaram mais efetivos. E quando eles aconteciam sempre alguém levava um berimbau, um pandeiro, um atabaque, um vestia uma roupa folgada. Nessa atmosfera, as conversas rolavam soltas, fatos comuns eram revividos e os assuntos que envolvesse a capoeira era o ponto culminante do encontro. A intensidade da reunião era tanta que em um determinado momento, alguém não agüentava tantas recordações e tirava uma nota de sua excelência, o berimbau; o seu pandeiro coaxava respondendo e em seguida um canto ecoava:

Bahia, minha Bahia,
Capital é Salvador,
Quem não conhece capoeira
Não Pode dar valor.

Todos podem aprender,
General até doutor,
Mas para isso é necessário,
Procurar um professor. (AA)

A partir desse momento dois homens arregaçavam as pernas das calças, abaixavam-se ao pé do berimbau, se benziam, davam-se as mãos, o solista gritava: “Dá volta ao mundo”. Eles pulavam para dentro da roda. Era mais uma vez o reencontro com uma maneira peculiar de ser, existir e se expressar. Momentaneamente não existiam conflitos entre estilos, filosofia e fundamentos da capoeira.

Segundo Anande das Areias, “acima das diferenças, estava à necessidade expressar-se espontaneamente, revivendo uma sensação de prazer e reencontro consigo mesmo. As diferenças eram uma complementação, a capoeira tornava-se uma só e tudo era festa e brincadeira”. E assim, provavelmente tenha começado o movimento capoeirístico em São Paulo. Encontros entre os capoeiristas. Valdemar Angoleiro, Mestre Ananias, Zé Freitas, entre muitos outros, foram alguns dos primeiros a disseminar a capoeira em terras paulistas. Essa era a época que a pessoas, fora do movimento da capoeira, quando viam um berimbau perguntavam: o que é isso?

A capoeira continua seu caminho. Mais tarde registra-se em São Paulo a presenças de outros mestres. Entre eles: Paulo Gomes, Suassuna, Brasília, Joel, Gilvam e a estes se incorporaram os recém formados capoeiristas paulistas, na atualidade, Mestres Paulão, Pinatti, Melo, Japonês Seiko.

O mercado consumidor de capoeira em São Paulo na época estava em franca expansão. Ela já freqüentava os mais variados ambientes. Os mestres estavam deslumbrados, vivenciavam a possibilidade de sobreviver da sua arte, e a de conquistar o seu espaço como capoeiristas e indivíduos dentro da sociedade.

Nessa ebulição da capoeira e a efervescência de novas políticas públicas para a nação brasileira, os “trabalhadores do Brasil”, precisavam ter organização e assim, a sociedade colaboraria com o poder executivo central, na construção de um ´país soberano. A capoeira precisava de uma federação, para resolver alguns entraves, e para que ela fosse transformada em Arte Marcial Brasileira criou-se a Federação Paulista de Capoeira.

Os mestres líderes da capoeiragem paulista, Suassuna e Pinatti, estimulados pelo mestre Onça, recém chegado da Bahia e representante da ideologia da ideologia ditatorial, tentam “unir”, dirigir e integrar o meio capoeirístico ao regime. A federação agindo dessa maneira provocou dissabores a vários capoeiristas.

O Grupo “Capitães das Areias” fundado e liderado por Almir das Areias, atualmente, Anande das Areias, reunindo os mestres Demir, Valdir, Baiano, Carioca, Pessoa, não aceitaram esse novo caminho imposta à capoeiragem. A reação desses homens na época foi considerada uma traição. Mas agiram assim porque, para eles a capoeira era muito mais que uma luta e um esporte, era acima de tudo uma consciência de vida e um reencontro com a nossa identidade.

Alguns jovens da classe média carioca, durante as férias de fim de ano, no começo dos anos 60 tiveram aulas com o mestre Bimba. Retornaram pra o Rio de Janeiro, prosseguem o aprendizado de forma quase autodidata. A aplicação aos treinamentos desses jovens foi recompensada, pois em 1966/67/68, eles conquistaram o troféu “Berimbau de Ouro” e o grupo que representavam “Grupo Senzala”, chegou ao auge com as rodas realizadas aos sábados no Bairro do Cosme Velho.
O Grupo Senzala e seus intrépidos componentes já no final da década de 1960, obteve grande sucesso em termos de número de alunos, de dinheiro e status. Vários fatores contribuíram, entre eles:

• A dedicação de seus instrutores;
• As novidades introduzidas;
• Serem da classe média da Zona Sul do Rio (Copacabana).
• Aceitação maior da sociedade (não eram negros).

Segundo Nestor Capoeira, “... se tornou um dos grupos mais famosos do Brasil, praticando e ensinando um estilo que poderíamos chamar Regional-Senzala, e influenciou capoeiristas de todo o Brasil, até mesmo os jovens professores de Salvador.

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