sexta-feira, 11 de julho de 2008

18- SOBRE A CAPOEIRA E CARIVALDO.


A Capoeira, arte/luta/dança brasileira, combatida e combatente, segue sua trajetória na História sempre agregando elementos culturais dos locais onde chega, porém, não esquecendo sua estrutura principal. Agindo dessa maneira, torna-se mais forte, mais vigorosa e com isso, inclui mais pessoas em sua prática transformando-as em cidadãs.

A criação da Capoeira Regional por Mestre Bimba na Bahia da década de 30 do século XX, o sucesso alcançado pelo Grupo Senzala, no Rio de Janeiro entre os anos 60 e 70 desse mesmo século, adicionando-se ainda a criação das federações de capoeira e as realizações de campeonatos, dava a impressão que a Capoeira Angola assistia seus últimos dias. Alguns mestres angoleiros continuavam em atividades mas, completamente obscurecidos pelo estilo regional-senzala.

Essa situação enfrentada pela Capoeira Tradicional, a partir de 1895 começa a tomar novos rumos. Os velhos mestres da Capoeira Angola são convidados por vários grupos para darem aulas, palestrarem, enfim, estavam tendo a oportunidade de serem visíveis novamente e, essa reviravolta somente foi entendida mais tarde.

Os estudiosos da temática perguntaram-se como foi possível isso ocorrer? Quem nos respondeu essa indagação foi o próprio Nestor Capoeira na sua Obra: (Capoeira – Pequeno Manual do Jogador, Rio de Janeiro. Record, 2006, pág. 65/66).

Nessa obra ele relata que a Capoeira Regional-Senzala não se mostrava tão eficaz na Europa e nos Estados Unidos. Isto é, o mercado estrangeiro estava mais exigente. Em contrapartida, a Capoeira Tradicional com ênfase no ritual, filosofia, atraia diversas faixas etárias; ambos os sexos, pessoas ligadas a dança, música, teatro, além das ligadas às arte marciais. Estavam então entendido o motivo pelo qual os praticantes do estilo quase esquecido forma convidados a entrarem novamente na roda.

O mundo da capoeiragem precisava mais espaço, tanto dentro como fora do Brasil. Homens destemidos, estudiosos, autodidatas e acima de tudo corajosos, deixam seus locais de origem e partem para novos desafios. A década de 80 do século XX se presta para isso. Capoeiristas tendo a memória como arquivo e o o corpo como instrumento para materializar essas informações acumuladas por mais de duas décadas, são disseminadores dessa arte/luta/dança nos mais variados e distantes localidades.

A movimentação desse período, especificamente da Capoeira, nos faz ir até o Estado da Bahia, na cidade de Souto Maior, onde em 20 de março de 1954, nasceu Carivaldo Lopes dos Santos. Filho de Antônio Lopes dos Santos e de dona Maria Etelvina de Jesus. Ele é afro-descendente, e como todos nós precisou com pouca idade iniciar-se no trabalho para sua manutenção e dos seus.

O menino Carivaldo em 1966 inicia a prática da Capoeira com o senhor Antônio Canceição Moraes, conhecido na Bahia e fora dela como Mestre Caiçara. Após 8 anos de dedicação, muitas aulas de capoeira e de vida, ensinamentos de seus superiores, principalmente do mestre professor, em 1974, com várias lições é solicitado ao jovem capoeirista que vá “dar volta a mundo”. Essa expressão no mundo na Capoeira significa conhecer outros lugares e aprimorar, através da observação e prática, os fundamentos da Capoeira. Com 20 anos Carivaldo estava em São Paulo.
O Estado recebeu-lhe como havia feito a tantos outros baianos. Porém, esse jovem tinha mais sonhos e foi aconselhado a procurar outro baiano, o Mestre Ferreira, já algum tempo na capital paulista. Os ensinamentos obtidos na Bahia com Mestre Caiçara foram tão significativos que em 31 de março de 1979, formou-se como mestre de Capoeira. Após ter recebido essa titulação, comprovação de seu esforço e dedicação, abre sua primeira academia sob a denominação de “Academia de Capoeira Nosso Senhor do Bom Fim”.

O seu trabalho, agora como proprietário de academia no Estado de São Paulo, manteve-se em atividade aproximadamente 5 anos. Mas seu ideal não era “viver da Capoeira e sim, viver para a Capoeira”, divulgando sempre a cultura dos afro-descendentes. A sua inquietação e seu desejo de mudanças decidiu vir a Mato Grosso, com o objetivo de fundar uma federação de capoeira. Ele não sabia ao certo qual seria a cidade, mas ela deveria estar ao norte do estado matogrossense.

O capoeirista adquire a passagem e segue viagem. Utilizava como estratégia compra-la sempre para cidades com maior destaquen no cenário Nacional, nesse caso específico, até Cuiabá.

O deslocamento seguia tranqüilo e como acontece com todo o viajante, é normal conversar com outras pessoas. Com Mestre Carivaldo não foi diferente. Antes de chegar em Rondonópolis, em uma parada para refeição ele trava um diálogo com um senhor que morava nesta cidade. Quando falou-lhe o que fazia e o porquê estava viajando, esse homem fez questão de fazer uma cortesia, isto é, pagando-lhe o que foi consumido e ainda indicando um local para pernoitar, além disso disse qual seria a academia e com quem falar para ter disponibilidade de trabalho.

O Hotel Sumaré de Rondonópolis foi quem primeiro abrigou o Mestre de Capoeira. Nesse período, esse estabelecimento comercial era um dos mais próximos do terminal rodoviário da cidade.

Após merecido repouso, no dia seguinte foi até a Academia Líder de Artes dialogar com seu proprietário, o professor de Jiu-jitsu Paulo César Venâncio.

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