sexta-feira, 20 de junho de 2008

16- SOBRE OUSADIA E CRIATIVIDADE.


Manuel dos Reis Machado, o Mestre Bimba, um dos “heróis culturais” da capoeira Brasileira, consegue licença oficial que autoriza a ensiná-la no seu “Centro de Cultura Física e Capoeira Regional”, num período em que o Brasil caminhava para o pleno regime de força e que as leis penais consideravam os capoeiristas como deliquentes perigosos. Porém sua genialidade qualificou o ensino de sua capoeira como ensino de educação física, a então Secretaria da Educação, Saúde e Assistência Pública expediu certificado de registro à academia de capoeira de Mestre Bimba, a primeira no gênero, em 9 de julho de 1937. A partir desse momento, a capoeira sairia das ruas e passaria a ser praticada no interior das “academias”, como ficariam conhecidas as escolas de capoeira.


Vicente Ferreira Pastinha, o Mestre Pastinha, funda também sua academia “Centro Esportivo de Capoeira Angola”, atualmente no Largo no Pelourinho nº 19, e dirigida por Mestre Curió, seu aluno. Uma particularidade que convém relatar sobre como a capoeira angola era ensinada, tanto nesta academia como em outras. Os ensinamentos eram todos feitos via oral e o tempo para formar-se um mestre em capoeira eram aproximadamente 28 anos. exceção a essa especificidade era a academia de Mestre Bimba.


A capoeira, a partir dessas duas correntes, começam “exportar” seus alunos para outros locais do Brasil. São Paulo era um local onde ela poderia afirmar-se como prática. Era necessário então que pessoas experientes e conhecedoras da arte, organizassem os já praticantes dela e aprimorassem as maneiras de agregação dos capoeiristas.


Para tanto, em dezembro, final da década de 40 (1948), desen=mbarcarm em São Paulo os “pioneiros” da capoeira paulista. Entre eles destacam-se: Esdras Magalhães dos Santos (Mestre Damião), Manoel Garrido Rodeiro (Mestre Garrido), Fernando Rodriguês Perez (Perez da capoeira Baiana), formados e especializados pelo Mestre Bimba no Centro de Cultura Física e Luta Regional, do Maciel de Cima, em Salvador. Essa movimentação de Capoeirista tinha como objetivo maior preparar a vinda do “Rei da Capoeira” à terra paulista, para mostrar então, a luta genuína brasileira.


Nesse mesmo mês chegou o próprio Mestre Bimba, acompanhado de seus alunos Brasilino, Clarindo, Adib, Jurandir e Edevaldo, que se juntaram ao três primeiros. O pugilista Ralf Zumbano intermediou os entendimentos com seus tio Kid Jofre, argentino naturalizado brasileiro, pai do “Galo de Ouro” Eder Jofre, para que os capoeiristas começassem a treinar em sua academia de boxe.


Os denominados “meninos de Bimba”, fizeram duas apresentações em fevereiro e duas em março no ano de 1949. Nesses encontros eles disputavam noitadas de vale tudo, com os melhores lutadores paulista da modalidade: Duro, Menezes, Godofredo, Evaldo, Cabrera, Flávio, Canuto, Arapuã, Nagashima (Jiu-jitsu). Logo após esses embates para divulgar a capoeira, participaram de temporada no Rio de Janeiro, enfrentando lutadores locais em combates “prá-valer”., As apresntações tanto em São Paulo quanto no Rio de Janeiro, tiveram muito sucesso.


Esdras Magalhães dos Santos, o Mestre Damião, que encontrava-se no Rio de Janeiro retornou à São Paulo, para fazer o curso de sargentos especialistas da Aeronáutica, no Campo de Marte. Nessa sua empreitada de dois anos (1950/51) ele deu aulas para aproximadamente cinquenta alunos, na academia de Kid Jofre. Os primeiros alunos foram: Renato Bacelar (advogado), Martinho Luthero dos Santos (professor irmão de Damião), e seus amigos Walter Grossman, Hamilton e Waldemar.


Após essa temporada com apresentações em São Paulo e Rio de Janeiro, o bom baiano considerado “Rei da Capoeira” retornou a Bahia para continuar seus trabalhos. Nesse ínterim Mestre Bimba e seus alunos fazem uma exibição no Palácio do Governo em Salvador, a pedido do governador da Bahia Juracy Montenegro Magalhaes. Essa demonstração da capoeira teve um convidado especial para assistir, o Presidente da República Getúlio Dorneles Vargas. Após ver a peripécias realizadas pelos capoeirista teria dito: “A Capoeira é o único esporte verdadeiramente nacional”.
Desse momento em diante ela passou a ser valorizada e a ter acesso a exibições em clubes, escolas, teatros, começando a ganhar apoio de políticos, intelectuais, artista e do povo em geral.


Apesar de todas essas conquistas por meio de esforço, dedicação e ousadia, o Capoeira como indivíduo, como ser humano continuou sendo vítima dos preconceitos da sociedade. Essa discriminação somente começou a dissipar-se minimamente a partir da década de 60 (sessenta) quando essa arte/luta/dança, com gestação em África e nascida no Brasil, pela ânsia de liberdade dos escravizados, começou a trilhar novos caminhos.

terça-feira, 17 de junho de 2008

15- SOBRE BIMBA E PASTINHA.

Manoel dos Reis Machado, filho de Luiz Cândido Machado e de Dona Maria Martinha do Bonfim, nasceu no dia 23 de Novembro de l900, no bairro do engenho Velho, Freguesia de Brotas, Salvador Bahia.


O apelido de "BIMBA" resultou em uma aposta entre a sua mãe, Dona Martinha que acreditava que daria à luz a uma menina e por outro lado a parteira que o assistiu que seria menino. Na hora do nascimento a mãe pergunta para parteira e aí ganhei a aposta e a parteira responde, é "BIMBA" Dona Martinha. Bimba quer dizer o nome do órgão genital masculino no Nordeste, referindo-se às crianças.


Bimba começou seu aprendizado na Arte da Capoeira com 12 anos de idade, tendo como Mestre, um filho de africanos de nome Bentinho, que era capitão da Companhia de Navegação na Bahia. Seu aprendizado com Bentinho levou 4 anos, a partir deste período passou a transmitir os ensinamentos recebidos e ensinou Capoeira Angola na Capitania dos Portos da Bahia por 10 anos.


A Capoeira Regional surgiu com a fusão da Capoeira Angola e o Batuque, um certo tipo de luta que aprendeu com seu pai, que era campeão absoluto na Bahia, dando-lhe assim, uma roupagem nova, digna de admiração e respeito. A partir daí passou a se chamar "LUTA REGIONAL BAIANA" testando sua eficiência não apenas com capoeiristas e policiais agressores, mas, principalmente desafiando outros lutadores famosos de outras modalidades. Vencendo todas as lutas e quem mais tempo resistiu durou apenas 1 minuto e 10 segundos. Jornais da Bahia relataram seus feitos, fazendo alusão à sua coragem e bravura. Esta luta teve este nome por ser apenas praticada em Salvador, mais tarde com sua expansão passou-se a chamar CAPOEIRA REGIONAL.


Em 1932, fundou sua primeira academia no estilo Regional, no Engenho Velho de Brotas em Salvador, com o nome de CENTRO DE CULTURA FÍSICA REGIONAL BAIANA. A partir de então, iniciou-se sua ascensão, tornando-o famoso e ganhando vários títulos. Um deles é o de "Pai da Capoeira Moderna".


Em 1937, conseguiu o registro de sua academia junto à Secretaria de Educação, Saúde e Assistência Pública de Salvador, como reconhecimento de seu trabalho. E em 1942 fundou sua segunda academia no Terreiro de Jesus.


Dois anos mais tarde ele começa a ministrar aulas de Capoeira no quartel do Centro de Preparação para Oficiais da Reserva (CPOR) de Salvador, no Forte Barbalho, trabalando nesse local por três anos


Cansado por falta de apoio dos poderes públicos da Bahia e enganado pelas promessas de seu aluno formado Oswaldo de Souza, que ministrava aulas em Goiânia, em janeiro de 1973 mudou-se para esta capital, na certeza de uma vida mais digna.


Em 15 de fevereiro de 1974, no Hospital das Clínicas de Goiania, morre Mestre Bimba vítima de um derrame cerebral, desgostoso pelas traições, falta de apoio e dificuldade financeiras.


Vicente Ferreira Pastinha nasceu em 1889,filho do espanhol Jose Senor Pastinha e de Dona Maria Eugenia Ferreira. Seu pai era um comerciante, dono de um pequeno armazém no centro histórico de Salvador e sua mãe ,com a qual ele teve pouco contato ,era uma negra natural de Santo Amaro da Purificação e que vivia de vender acarajé e de lavar roupas.


Com oito anos de idade Pastinha conheceu a arte da capoeira. Quem o iniciou foi um negro africano a quem chamava de tio Benedito que ao ver Pastinha um menino pequeno e magrelo apanhar de um garoto mais velho resolveu ensinar-lhe a arte da capoeira. Passava tardes inteiras treinando num velho sobrado da rua do Tijolo em Salvador .Ali aprendeu alem de tudo a jogar com a vida e a ser um vencedor.


Viveu uma infância feliz, porém, modesta. Durante as manhãs frequentava aulas no Liceu de Artes e Ofício, onde também aprendeu pintura. À tarde, empinava arraia e jogava capoeira. Com 13 anos era o mais respeitado e temido do bairro. Mais tarde, foi matriculado por seu pai na Escola de Aprendizes de Marinheiro que não concordava muito com a prática da capoeira pois achava que era muita vadiagem. Conheceu os segredos do mar e ensinou aos amigos que conquistou a arte da capoeira.


Quando completou 21 anos voltou para Salvador, decidido a se dedicar à pintura. Nos horários de folga praticava capoeira às escondidas, pois no início do século esta luta era crime prevista por Lei.


No ano de 1941, fundou o Centro Esportivo de Capoeira Angola, situado no casarão 19 do Largo do Pelourinho esta foi sua primeira Escola de Capoeira. Seus alunos usavam como uniforme calças pretas e camisas amarelas, cores do time pelo qual torcia na Bahia, o YPIRANGA FUTEBOL CLUBE.


Pastinha trabalhou bastante em prol da Capoeira, representando o Brasil e a Arte Negra em vários países.


Com 84 anos de idade, doente, e fisicamente debilitado, foi morar no Pelourinho em um pequeno quarto, com sua segunda esposa, Dona Maria Romélia, deixando a antiga sede da Academia , devido aos problemas financeiros, o único meio de sobrevivência provinha dos acarajés que sua esposa vendia.


Em Abril de 1981, participou da última roda de Capoeira de sua vida. Numa sexta-feira, 13 de novembro de 1981, Mestre Pastinha se despede desta vida aos 92 anos, cego e paralítico, vítima de uma parada cardíaca fatal.

sexta-feira, 13 de junho de 2008

CAPOEIRA: AFRICANA OU BRASILEIRA?



Autor da Matéria: Mestre Vieira

(Associação de capoeira Unidos pela Arte)


A Capoeira de fato surgiu pela necessidade de liberdade de um povo, mais não necessariamente de dentro de um tumbeiro.

Existem muitas lendas sobre a capoeira, baseando-se no feito de Rui Barbosa que no dia 15/12/1890, quando ministro da fazenda do governo do presidente Manoel Deodoro da Fonseca, mandou queimar documentos sobre a escravidão negra no Brasil cada historiador apresenta uma versão sobre a capoeira.

Caros amigos, em minha opinião a capoeira não é africana e nem tampouco Afro-Brasileira, a capoeira surgiu com os negros ladinos nascidos no Brasil.



A CAPOEIRA NÃO É CULTUADA NO BRASIL, ELA NASCEU NO BRASIL!



Em 1559 D. João legalizou a importação de escravos para o Brasil tendo os navios desembarcados nos portos do: Recife, Rio de janeiro e Bahia, escravos vindos de Angola, Guiné, Moçambique e Luana.

Estes negros contribuíram muito com o desenvolvimento de palmares, através de seus conhecimentos e técnicas em varias áreas tais como: A agricultura, artesanato, pesca, montaria e o cultivo das palmeiras e Assim fizeram de Palmares uma verdadeira Angola-Janga. Os Africanos trouxeram também suas crenças e manifestações culturais como, por exemplo, o candomblé, ele é africano e por ser cultuado no Brasil é Afro-Brasileiro. A capoeira é Brasileira, n'golo não é Capoeira assim como Jiu-jitsu não é Judô.

A capoeira nasceu no Brasil, onde devemos considerar as culturas e hábitos dos povos negros e indígenas da região. Já que a origem da palavra é Tupi-guarani a capoeira pode ter surgido através da integração destes povos.

A capoeira é uma luta genuinamente brasileira, muito embora ainda exista pessoas que não valorizam o que é seu como diz o ditado: "Santo de casa não faz milagre", e com isso insistem em querer importar a capoeira, ela é luta brasileira criada pelos escravos nascidos no Brasil se ela fosse Afro-Brasileira, como dizem, então porque em outros paises não existe capoeira se o Brasil foi o último pais a aderir à importação de escravos, como também um dos últimos a decretar a abolição.

A capoeira NÃO É DANÇA, a capoeira é esporte é luta 100% brasileira.

Em um determinado tempo o berimbau, o pandeiro e o atabaque foram incluídos na capoeira, de fato ficou muito agradável, porém, as pessoas passaram a confundir a capoeira como dança é claro que todo esporte tem sua expressão corporal e a capoeira tem sua particularidade própria que é a troca de base para confundir o adversário.

A própria historia conta que a capoeira surgiu pela ância de liberdade de um povo sofrido e que os escravos usavam golpes de capoeira para se defender e abater o seu opressor, isso é o que? É dança?... Não, isso é luta meu irmão!

A ginga da capoeira é nada mais que uma troca de base: Base frontal e lateral.

Em 1712 - Rafael Bruteal registrou pela primeira vez o vocábulo capoeira.

Em 1808/1850 – A capoeira Escrava: Carlos Eugênio Líbano Soares, disse em entrevista ao jornal Mais... “Ela nasce como forma de defesa do escravo contra a violência”.

Em 1890 - Manoel Deodoro da Fonseca assinou a proibição da capoeira – Decreto nº 487 – Artigo 402.

Em 1937 - O presidente Getulio Vargas liberou a capoeira como folclore brasileiro.

Em 1972 - O General Eurico de Andrade Neves Filho, presidente CBP (confederação brasileira de pugilismo) assinou o primeiro regulamento técnico de capoeira no Brasil.

Em 1973 - O presidente Emilio G. Médici, liberou o registro da capoeira como arte marcial.

Site do Mestre Vieira:

www.mestrevieira.rg3.net

14- SOBRE PERSEGUIÇÕES E RENOVAÇÃO.

Apesar da Abolição da Escravatura em 1888, os capoeiristas não deixavam de ser perseguidos. Na Bahia a capoeira passou a sua fase de maior repressão no período de 1920 à 1927, durante a administração do delegado de polícia Pedro de Azevedo Gordilho (Pedrito), que tornou-se famoso pela perseguição aos capoeiristas e dos candomblés. Os praticantes da capoeira utilizando de criatividade criaram um toque no berimbau chamado de Cavalaria que, ao simular o tropel de cavalos, denunciava a aproximação do conhecido Esquadrão de Cavalaria da Polícia. A memória dessa perseguição está presente ainda hoje na seguinte quadra, coletada por Waldeloir Rego:


“Toca o Pandeiro,
Sacuda o caxixi,
Anda depressa,
Qui Pedrito Evém aí”.



Foi a partir de então, que Mestre Bimba, distinto capoeirista das primeiras décadas do século XX, considerando-a como luta contra seus opressores e acreditando na possibilidade de torná-la mais eficiente e respeitada, passou a estudá-la, aperfeiçoando seus golpes, movimentos e posturas, dando-lhe uma característica totalmente marcial. Denominou seu novo estilo de Luta Regional Baiana. Após essa inovação, a Capoeira recuperou seu poder de luta, voltando a ser temida e respeitada, não apenas pelos seus adversários, como também pelos capoeiristas do antigo estilo (Angola).


Em Salvador a Capoeira ainda enfrentava acirrada perseguição, conforme contava o Próprio Bimba. “Naquele tempo, capoeira era coisa para carroceiro, trapicheiro, estivador e malandros. Eu era estivador, mas fui um pouco de tudo. A polícia perseguia um capoeirista como se persegue um cão danado. Imagine só, que um dos castigos que davam ao capoeirista que fossem presos brigando, era amarrar um dos punhos no rabo de um cavalo e o outro em cavalo paralelo, Os dois cavalos eram soltos e posto a correr em disparada até o quartel. Comentavam até por brincadeira, que era melhor brigar perto do quartel, pois houve muitos casos de morte. O indivíduo não aguentava ser arrastado em velocidade pelo chão e morria antes de chegar ao seu destino: o quartel de polícia”.


Nesse período ocorreu um grande salto na História da Capoeira. Insatisfeito com o preconceito e a marginalização que a envolvia, Mestre Bimba decidiu, em função de suas pesquisas, criar uma variação da capoeira.


A preocupação com a eficiência combativa da nossa arte/luta, segundo ele, vinha sendo dissipada e perdida pela ação do turismo. Os capoeiristas envolviam-se muito naquela época com apresentações para turistas, e a capoeira foi se transformando num show de acrobacias e mandingagens, afastando-se do seu sentido original.


O Mestre Bimba preservando a movimentação original e os antigos rituais, introduziu modificações baseadas em golpes de jiu-jitsu, da luta greco-romana, do box e principalmente do batuque, uma luta de origem africana muito praticada na Bahia.


O tenente Esdras Magalhães dos Santos, conhecido no meio capoeirista como Mestre Damião, um dos famosos discípulos de Bimba e precursor da Capoeira paulista fêz o seguinte comentário sobre a criação de seu Mestre.
“Na criação da Luta Regional houve a colaboração de Cisnando Lima, cearense 'arretado' profundo conhecedor de jiu-jistu, box, luta grego-romana... Cisnando transmitiu a Bimba os seus conhecimentos, aos quais ele associou golpes de batuque para a elaboração da nova modalidade esportiva.


Ainda sobre a criação da Luta Regional, Mestre Decânio, o aluno mais idoso de Mestre Bimba que ainda vive, acentua, no entanto, que apesar de Cisnando apresentar os golpes e contragolpes daquelas lutas, a decisão final da conveniência ou não da inclusão dos mesmo na Luta Regional Baiana sempre foi do mestre”.


A inovações de Mestre Bimba, ainda que tenham atingidos os objetivos a que se propunham, ou seja, conferir maior eficiência combativa à nossa luta, e promover seu reconhecimento social, geram grande polêmica no seio da comunidade capoeirística; muitos encararam-nas injustamente como uma descaracterização das tradições da capoeira. O debate perdura até hoje, em pleno século XXI, exibindo posições variadas.


A tensões geradas nas tendências da capoeira é salutar. Precisamos sim preservar as tradições, sem no entanto, ficar-se alheio às inovações que representem evolução.

quinta-feira, 12 de junho de 2008

13- SOBRE O CAMINHO DA CAPOEIRA.

A alvorada do século XX estava iniciando e com ela as lutas sociais. Precisava-se dar um formato diferenciado à sociedade brasileira que adentrava nesse período, e com um sólido propósito, diminuir o anominato cultural, principalmente da etnia negra. Ela possuía liberdade, mas não tinha meios de mantê-la. Isto porque foi-lhe dada simplesmente sem nenhum um projeto de apoio para que essa classe social tivesse algum respaldo para progredir.

É nesse ínterim que, através de pesquisas e relatos, constatamos a criatividade e a inteligência do negro. Inicia-se, a partir desse momento, um movimento para a obtenção de manutenção da vida. Ele lançou-se, afim de conseguir meios de subsistência, praticar sua arte/luta/dança, para obter, a princípio, algum ganho e depois, utilizá-la como prática de inclusão social.

O jornalista Alberto Bessa, na sua obra a Gíria Portuguesa, em 1901, define a capoeira como “jogo de mãos, pés e cabeça, praticado por vadios de baixa esfera (gatunos).

Na primeira década do século XX, um motim ocorrido em quatro navios, na Baía da Guanabara, no Rio de Janeiro, denominado “A Revolta da Chibata” que tinha como protesto principal, combater os maus tratos recebido, contra o suplício e a tortura ainda existentes na Armada, vestígios da mentalidade oligárquica escravista, João Candido, negro nascido no Rio Grande do Sul, filho de ex-ecravos, denominado pela imprensa como “Almirante Negro”, assume o Comando do movimento. A princípio foram feitas promessas que, com o passar do tempo não foram cumpridas pelo governo da época.

A Capoeira, arte/luta/dança nacional, continua seu caminho. Morrem os capoeiristas mas ela, continua agregando elementos culturais de outras etnias. Essa fusão deixava-lhe mais estruturada e vigorosa sempre promovendo encontros de diversas tendências.

Em Salvador, desde a década de 1910 são criadas as “escolas de capoeira”. E, como sabemos, por força de leis, todas clandestinas. Nesse mesmo período no Rio de Janeiro, os capoeiristas cariocas também possuíam espaços reservados ao treinamento da luta, alguns deles frequentados por pessoas pertencentes a elite. Um relato da época de Inezil Penna Marinho assim ficou registrado: “Aqui no Rio, Sinhozinho mantém uma academia no Ipanema, destinada a moços grã-finos que desejam ter algum motivo para se tornar valentes”.

As maltas de Recife chega a hora final em 1912, coincidindo com o nascimento do frevo; o passo, que é a movimentação dele, é filho da capoeira. Como nos conta Edison Carneiro, escritor brasileiro, principalmente dos temas afros, em sua obra Cadernos do Folclore de 1971, “a hora final chegou para as maltas de Recife, mais ou menos em 1912, coincidindo com o nascimento do frevo, legado da capoeira (melhor diria, 'o passo', que é a dança; o frevo é a música que o acompanha). As bandas rivais do Quarto (4º Batalhão) e da Espanha (Guarda Nacional) desfilavam no carnaval pernambucano protegidas pela agilidade, pela valentia, pelos cacetes e pelas facas dos façanhudo capoeiras que aos saracoteios desafiavam os inimigos: 'Cresceu, caiu, partiu, morreu'. A polícia foi acabando paulatinamente com os moleques de banda de música e com seus líderes. Entre eles destacavam-se: Nicolau do Poço, João e Totó, Jovino dos Coelhos, até neutralizar o maior deles, Nascimento Grande”.


quarta-feira, 11 de junho de 2008

12- SOBRE A ABOLIÇÃO DA ESCRAVATURA.

O Abolicionismo está em todos os lugares e sendo defendido por inúmeras pessoas. Essa pressão na administração governamental da época motivou a assinatura de uma lei que “aboliu” completamente o escravismo no Brasil, aparentemente.

Com a Abolição da Escravatura, ex-escravos, capoeiristas, não encontrando lugar na sociedade e para sobreviverem, caíram na marginalidade, levando com eles a capoeira. Quando olhamos essa prática feita pelos negros com mais acuidade, percebemos que o período “fora da lei” dela começou muito antes.

Um ano após a chegada de Dom João no Brasil (1809), foi nomeado para a Guarda Real de Polícia o Major Nunes Vidigal e paralelamente a esse ato, em 1814 são feitos os primeiros decretos que proibiam de uma maneira geral as manifestações culturais negras.

Afonso Celso de Assis Figueiredo, o Visconde de Ouro Preto, era um abolicionista convicto e instituiu secretamente a Guarda Negra, composta quase toda de capoeiras, navalhistas e caceteiros, os trabalhos realizados por esse grupo era pagos pelo governo.

José do Patrocínio procurou aliciar libertos para defender a monarquia ameaçada pela onda republicana que crescera após a Abolição. Patrocínio inicia a arregimentação de ex-escravos, capoeiras e marginais de um modo geral, para fundar a Guarda Negra. Esse ajuntamento tinha como finalidade impedir a propaganda republicana, inclusive com a tarefa de dissolver comícios pela violência. Essa posição dos elementos aliciados por ele deu muito trabalho às autoridades e impediu, em muitos casos, que os adversários da monarquia se manifestassem. Os seus membros conseguiram dissolver muitos comícios republicanos através da violência.

Todos esses cuidados foram em vão e, em 15 de novembro de 1889, a República foi proclamada pelo Marechal Deodoro da Fonseca. A situação da sociedade brasileira, mais uma vez é tomada por uma série de acontecimentos, pois a estrutura imperial dá lugar a republicana. Dessa maneira então, e para controlar a agitações sociais da época, entra em vigor o Código Penal da República dos Estados Unidos do Brasil de 11 de outubro de 1890, cujo teor do capítulo 12 transcrevermos na íntegra.


Capítulo XII -- Dos Vadios e Capoeiras

Art. 402. Fazer nas ruas e praças públicas exercícios de agilidade e destreza corporal conhecidos pela denominação Capoeiragem; andar em carreiras, com armas ou instrumentos capazes de produzir lesão corporal, provocando tumulto ou desordens, ameaçando pessoa certa ou incerta ou incutindo temor de algum mal.

Pena: prisão celular de 2 (dois) a 6 (seis) meses. A penalidade é a do art. 96.
Parágrafo único. É considerada circunstância agravante pertencer o capoeira a alguma banda ou malta. Aos chefes ou cabeças, impor-se-á a pena em dobro

Art. 403. No caso de reincidência será aplicada ao capoeira, no grau máximo, a pena do art. 400.(Pena de três anos em ilhas-prisões)

Parágrafo único. Se fôr estrangeiro, será deportado depois de cumprida a pena.

Art. 404. Se nesses exercícios de capoeiragem perpetrar homicídio, praticar alguma lesão corporal, ultrajar o pudor público e particular, perturbar a ordem, a tranqüilidade ou segurança pública ou for encontrado com armas, incorrerá cumulativamente nas penas cominadas para tais crimes.


O general José Vieira Couto Magalhães, ilustre etnólogo brasileiro, poliglota, conhecia bem o interior do Brasil e foi o iniciador da navegação a vapor no Planalto Central, diz, referindo-se a Capoeira: “esse modo de lutar é também aborígene, e, longe de ser perseguido, como é, devia ser dominado, regularizado em nossas escolas militares, porque um bom capoeira é um homem que equivale a dez homens...Somos, não europeus ou africanos, e sim americanos, pelo sangue, inteligência, moralidade, língua, superstições, alimento, dança e lutas físicas”.


terça-feira, 10 de junho de 2008

11- SOBRE A ABOLIÇÃO DO TRÁFICO NEGREIRO






























Eusébio de Queirós Coutinho Matoso da Câmara)












11- Sobre a abolição do tráfico negreiro.


A Lei Eusébio de de Queirós (Eusébio de Queirós Coutinho Matoso da Câmara) foi publicada em 1850. Ela reprimia o tráfico negreiro. Após esse ato, contrário a ecravidão de negros, surgiram várias sociedades antiescravistas que de forma unificada em 1883, foram agregadas pela liderança nacional da Confederação Abolicionista.

Algumas dessas sociedades criadas para fazer pressão sobre a situação dos negros, como a dos Caifazes de Antônio Bento, propunham-se a realizar ações nos mesmo moldes daquelas em que a etnia negra era tratada no interior das fazendas. Entre essas ações destacavam-se:

  • Surrar capitães -do-mato,
  • Promover fugas das fazendas,
  • Criar quilombos.


Os argumentos dos abolicionistas eram bem variáveis e de difícil contestação, deixando bem claro que a escravidão era um entrave ao desenvolvimento do país, pois impedia o crescimento do mercado, a evolução técnica, corompia o trabalho, a moral e a família.





O português Plácido de Abreu Morais publicou em 1886 o romance “Os Capoeiras”, que focaliza os rituais que faziam parte da Capoeiragem no Rio de Janeiro. No preâmbulo do romance, o autor transcreve um vocabulário da gíria que vigorava naquele tempo. Eis ele na íntegra:





“Cambar, passar de um partido para outro.
Arriar, deixar de jogar capoeiragem.
Distorcer, disfarçar ou retirar por qualquer motivo.
Tapear, enganar o adversário.
Tungar e balear, ferir o inimigo.
Trastejar, dar um golpe falso.
Alfinete, biriba, biscate e furão, estoque ou faca.
Sardinha, navalha.
Caçador, tombo que o capoeira dá, arrastando-se no chão sobre as mãos e o pé esquerdo e estendendo a perna direita de encontro aos pés do adversário.
Rabo de arraia, volta sobre o corpo, rodando uma das pernas de encontro ao inimigo.
Moquete, marretada, soco.
Banho de fumaça, tombo.
Alto da sinagoga, rosto.
Grampear, pegar à unha o adversário.
Passo de constrangimento, vacilação do inimigo quando leva um tombo ou é vencido; ato de retirar-se cabisbaixo.
Passo de siricopé, pulo que dá o capoeira depois que faz negaça, para ferir.
Pegada, encontro de dois partidos inimigos.
Marcha, procura de adversário.
Vou ver-te cabra, ameaça para brigar.
Carrapeta, pequeno esperto e audacioso que brama desafiando os inimigos.
Bramar, gritar o nome da província ou casa a que pertence o capoeira.
Senhora da cadeira, Santana.
Velho carpinteiro, S. José.
Velho cansado, S. Francisco.
Senhora da palma, Santa Rita.
Espada, Senhora da Lapa.
Sarandaje, pequenos capoeiras, miuçalha.
Endireitar, enfrentar com o inimigo.
Mole, covarde.
Leva, leva, grito de vitória, perseguição ao inimigo.
Baiana, joelhada que se dá depois de se haver saracoteado para tapear o inimigo.
Chifrada, cabeçada.
Encher, dar bordoada.
Bracear, dar pancada com os braços.
Melado, sangue.
Firma, não foge.
Caveira no espelho, cabeçada na cara.
Porre, pifão, bebedeira.
Topete a cheirar, cabeçada.
Não venha, que sais do passinho mole, sê prudente, porque levas um tombo.
Lamparina, bofetada.
Pantana, volta sobre o corpo aplicando os pés contra o peito do adversário.
Branquinha, aguardente.
Está pronto, está ferido.
Foi baleado, foi ferido.
Quero estia, quero tasca, senão bramo, quero parte disto ou daquilo, roubado, senão denuncio.
Deixa de saliências, não contes patranhas.
Rujão, batalhão ou sociedade.
Roda, vamos embora.
Desgalhar, fugir da polícia.
Jangada, xadrez de polícia.
Palácio de cristal, detenção.
Chácara, casa de correção.
Fortaleza, capela, taverna.
Piaba, sem valor.
Dar sorte, (diversas aplicações) cair em ridículo ou cousa bem desempenhada.
É direito, é destemido.”



Morais, em função da atividade que exercia de apoio à cultura do Brasil, especificamente a capoeira, foi morto em emboscada planejada e executada por seus adversários políticos.



sexta-feira, 6 de junho de 2008

10- Sobre Negros e a Família Real.

A Família Real chegou ao Brasil em 1808. Dom João VI e sua comitiva instalou-se no território nacional por ser ameaçado na Europa por Napoleão Bonaparte, Imperador francês. Um ano após a chegada do Regente, criou-se a Secretaria de Polícia e com ela foi organizada a Guarda Real de Polícia. Para chefiar essa instituição recém elaborada foi nomeado para chefia-la o Major Nunes Vidigal; perseguidor implancável dos Candomblés, das rodas de samba e em especial, os capoeiras.


Para os capoeiristas o major reservava um tratamento especial. Uma espécie de surras e torturas a que chamava de “Ceia dos Camarões”.


O Major Vidigal foi descrito como um “homem alto, gordo, do calibre de um granadeiro, moleirão, de fala abemolada, mas um capoeira habilidoso, de um sangue frio e de uma agilidade a toda a prova, respeitado pelos mais temíveis capangas de sua época. Tinha habilidades invejáveis quando jogava o pau, a faca, o murro e a navalha, sendo que nos golpes de cabeça e de pés era imbatível.


O lingüista Antônio Moraes Silva, na segunda e última edição que deu vida de sua obra, Diccionario da Língua Portugueza, inclui também o vocábulo capoeira. Após isto, o termo entrou no terreno da polêmica e da investigação etimológica, envolvendo nomes como os de José de Alencar, Beaurepaire Roham e Macedo Soares.


No ano de 1821, a Comissão Militar do Rio de Janeiro, em uma carta dirigida ao Ministro da Guerra, reclamava do “negros capoeiras, presos pelas escolas militares, promovendo desordens”, e em função dessa atividades “ilícitas” reconhecia a necessidade urgente de serem castigados publicamente pelos atos praticados.


No entanto, os capoeiras eram um “mal necessário”. Vez por outra, frequentemente chamados de desordeiros, assumiam o papel de heróis. Caso que ficou explícito na revolta do Batalhões Mercenários composto de irlandeses e alemães, que abandonaram seus quartéis, no Campo de Santana, São Cristóvão e Praia Vermelha, promovendo grande carnificina, matando e saqueando.







J.M. Pereira da Silva






Esse episódio é relatado por J.M. Pereira da Silva em “Memórias do Meu Tempo” entre os anos de 1840 à 1886, que os “sublevados foram atacados por magotes de pretos denominados capoeiras, travando com eles combates mortais.









Johann Moritz Rugendas.










O pintor alemão, Johann Moritz Rugendas, na segunda década do século XIX, quando esteve no Brasil, fazendo parte na missão alemã de Langsdorff, assim descreveu essa atividade realizada pelos negros nos momentos de “descanso”. “Os negros tem ainda um outro folguedo guerreiro, muito mais violenteo, a capoeira: dois campeões se precipitam um contra o outro, procurando dar com a cabeça no peito do adversário que desejam derrubar. Evita-se o ataque com saltos de lado e paradas igualmente hábeis; mas, lançando-se um contra o outro mais ou menos como bodes, acontece-lhes chocarem fortemente cabeça contra cabeça, o que faz com que a brincadeira não raro degenere em briga e que as facas entrem em jogo, ensanguentado-a.”

segunda-feira, 2 de junho de 2008

9- SOBRE O NEGRO NA ECONOMIA.

9- Sobre o negro na economia


No final do século XVII são descobertos no Brasil os primeiros veios auríferos. Dessa maneira, inicia-se a mineração no Brasil. Com a descoberta dos locais onde existia o metal (Minas Gerais), a movimentação de pessoas aumentou. Essa migração interna promoveu mudanças de trabalhadores e, consequentemente, as trocas culturais iriam ter outra influência, agora com elementos “construídos” dentro do território nacional.

O início do século XVIII foi marcado pelo começo da atividade cafeeira no Brasil. O café foi primeiro introduzido na América do Sul através do Suriname. De lá, passou para a Guiana Francesa, por iniciativa do Governador de Caiena que conseguiu, de um francês chamado Morgues um punhado de sementes, tendo-as semeado no pomar de sua residência.


No século XVIII, o café, devido às suas qualidades estimulantes, era um produto consumido de forma sôfrega na Europa e nos Estados Unidos da América. Os países que possuíam as mudas do Cafeeiro (os Países Baixos, a França e as suas colônias) guardavam-nas a sete chaves: elas eram preciosíssimas, pois o café era um produto muito valorizado no mercado internacional.


Portugal ainda não as possuía quando, em 1727, por determinação do Governador e Capitão-general do Estado do Maranhão, João da Maia da Gama, o Sargento-mor Francisco de Melo Palheta dirigiu-se para a Guiana Francesa com a missão de restabelecer as fronteiras fixadas pelo Tratado de Utrecht de 1713, violadas, Possuía, entretanto, uma outra missão, secreta: a de conseguir sementes do cafeeiro.


Em Caiena, Palheta buscou aproximar-se da esposa do Governador da Guiana, Madame d'Orvilliers, acabando por conquistar-lhe a confiança. Desse modo, logrou obter, das mãos da mesma, as almejadas sementes. O militar retornou no mesmo ano a Belém do Pará, onde as mesmas foram semeadas, introduzindo-se a espécie na colônia.


Devido ao fato de que, como a saída de mudas ou sementes do Cafeeiro era estritamente proibida pelo governo francês, ainda hoje se discute se é "lícito pensar que o aventureiro português recebeu não só os frutos, mas favores mais doces de madame."


O fato é que, graças ao militar, Portugal assegurou as fronteiras do Brasil ao Norte, no atual estado do Amapá e, ainda, obteve as primeiras sementes daquele que seria o principal produto de exportação brasileiro nos séculos XIX e XX.


No século XVIII, além do açúcar e da recém-implantação da cafeicultura e da mineração, começa efetivamente, com o crescimento das cidades, a vida urbana, surgindo outro tipo de escravidão: o escravizado doméstico. A partir desse momento, a alforria começa a ser amplamente disseminada. A presença do negro, sua contribuição para a civilização brasileira, torna-se marcante, não só nas senzalas das plantações ou da mineração, mas também nas cidades, no comércio, nos mercados e nas praças públicas.


O Vocabulário Português e Latino de Rafael Bluteau em 1712, registra pela primeira vez o termo capoeira, porém, os significados do termo não se referem à luta.













Capa dicionário onde pela primeira vez foi citado o termo.




Não existe praticamente registros sobre capoeira no século XVIII. Mas é muito comum imaginar-se a Capoeira, Arte/Luta/Dança, nascendo e crescendo no ambiente rural, mas talvez tenha sido nas cidades, onde circulava um grande número de libertos e “negros de ganho” (escravos que por conta própria exerciam alguma atividade e que no fim do dia tinham que entregar uma quantia prefixada ao seu proprietário), que esse processo foi mais expressivo.