sexta-feira, 20 de junho de 2008

16- SOBRE OUSADIA E CRIATIVIDADE.


Manuel dos Reis Machado, o Mestre Bimba, um dos “heróis culturais” da capoeira Brasileira, consegue licença oficial que autoriza a ensiná-la no seu “Centro de Cultura Física e Capoeira Regional”, num período em que o Brasil caminhava para o pleno regime de força e que as leis penais consideravam os capoeiristas como deliquentes perigosos. Porém sua genialidade qualificou o ensino de sua capoeira como ensino de educação física, a então Secretaria da Educação, Saúde e Assistência Pública expediu certificado de registro à academia de capoeira de Mestre Bimba, a primeira no gênero, em 9 de julho de 1937. A partir desse momento, a capoeira sairia das ruas e passaria a ser praticada no interior das “academias”, como ficariam conhecidas as escolas de capoeira.


Vicente Ferreira Pastinha, o Mestre Pastinha, funda também sua academia “Centro Esportivo de Capoeira Angola”, atualmente no Largo no Pelourinho nº 19, e dirigida por Mestre Curió, seu aluno. Uma particularidade que convém relatar sobre como a capoeira angola era ensinada, tanto nesta academia como em outras. Os ensinamentos eram todos feitos via oral e o tempo para formar-se um mestre em capoeira eram aproximadamente 28 anos. exceção a essa especificidade era a academia de Mestre Bimba.


A capoeira, a partir dessas duas correntes, começam “exportar” seus alunos para outros locais do Brasil. São Paulo era um local onde ela poderia afirmar-se como prática. Era necessário então que pessoas experientes e conhecedoras da arte, organizassem os já praticantes dela e aprimorassem as maneiras de agregação dos capoeiristas.


Para tanto, em dezembro, final da década de 40 (1948), desen=mbarcarm em São Paulo os “pioneiros” da capoeira paulista. Entre eles destacam-se: Esdras Magalhães dos Santos (Mestre Damião), Manoel Garrido Rodeiro (Mestre Garrido), Fernando Rodriguês Perez (Perez da capoeira Baiana), formados e especializados pelo Mestre Bimba no Centro de Cultura Física e Luta Regional, do Maciel de Cima, em Salvador. Essa movimentação de Capoeirista tinha como objetivo maior preparar a vinda do “Rei da Capoeira” à terra paulista, para mostrar então, a luta genuína brasileira.


Nesse mesmo mês chegou o próprio Mestre Bimba, acompanhado de seus alunos Brasilino, Clarindo, Adib, Jurandir e Edevaldo, que se juntaram ao três primeiros. O pugilista Ralf Zumbano intermediou os entendimentos com seus tio Kid Jofre, argentino naturalizado brasileiro, pai do “Galo de Ouro” Eder Jofre, para que os capoeiristas começassem a treinar em sua academia de boxe.


Os denominados “meninos de Bimba”, fizeram duas apresentações em fevereiro e duas em março no ano de 1949. Nesses encontros eles disputavam noitadas de vale tudo, com os melhores lutadores paulista da modalidade: Duro, Menezes, Godofredo, Evaldo, Cabrera, Flávio, Canuto, Arapuã, Nagashima (Jiu-jitsu). Logo após esses embates para divulgar a capoeira, participaram de temporada no Rio de Janeiro, enfrentando lutadores locais em combates “prá-valer”., As apresntações tanto em São Paulo quanto no Rio de Janeiro, tiveram muito sucesso.


Esdras Magalhães dos Santos, o Mestre Damião, que encontrava-se no Rio de Janeiro retornou à São Paulo, para fazer o curso de sargentos especialistas da Aeronáutica, no Campo de Marte. Nessa sua empreitada de dois anos (1950/51) ele deu aulas para aproximadamente cinquenta alunos, na academia de Kid Jofre. Os primeiros alunos foram: Renato Bacelar (advogado), Martinho Luthero dos Santos (professor irmão de Damião), e seus amigos Walter Grossman, Hamilton e Waldemar.


Após essa temporada com apresentações em São Paulo e Rio de Janeiro, o bom baiano considerado “Rei da Capoeira” retornou a Bahia para continuar seus trabalhos. Nesse ínterim Mestre Bimba e seus alunos fazem uma exibição no Palácio do Governo em Salvador, a pedido do governador da Bahia Juracy Montenegro Magalhaes. Essa demonstração da capoeira teve um convidado especial para assistir, o Presidente da República Getúlio Dorneles Vargas. Após ver a peripécias realizadas pelos capoeirista teria dito: “A Capoeira é o único esporte verdadeiramente nacional”.
Desse momento em diante ela passou a ser valorizada e a ter acesso a exibições em clubes, escolas, teatros, começando a ganhar apoio de políticos, intelectuais, artista e do povo em geral.


Apesar de todas essas conquistas por meio de esforço, dedicação e ousadia, o Capoeira como indivíduo, como ser humano continuou sendo vítima dos preconceitos da sociedade. Essa discriminação somente começou a dissipar-se minimamente a partir da década de 60 (sessenta) quando essa arte/luta/dança, com gestação em África e nascida no Brasil, pela ânsia de liberdade dos escravizados, começou a trilhar novos caminhos.

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